G. Estatização do sistema financeiro
Os grandes bancos são o setor da economia que mais tem se beneficiado com a
política econômica do governo FHC. A enorme taxa de juros tem proporcionado
aos banqueiros lucros espantosos. Em 2001, os lucros dos bancos aumentaram
134,22%, enquanto os salários, como já vimos, retrocederam 11,2%. Entre 1995
e 2000, a taxa média de lucro dos nove maiores bancos foi de 15,7%, quase
quatro vezes a taxa média histórica de lucro do conjunto das maiores
empresas no período 1974-2000, de 4,1%.
Os investimentos em títulos indexados à variação cambial foram as vedetes
dos bancos; seus trunfos por serem os grandes beneficiários do pagamento da
dívida interna. Desta maneira, os bancos tiveram lucros espetaculares em
2001, mais que o dobro de 2000. O lucro total chegou a R$ 7,76 bilhões. Os
cinco maiores bancos privados (Itaú, Bradesco, Santander, Unibanco e ABN
Amro) ficaram com 53,85% desses lucros (Gazeta Mercantil).
Mas, isso não é um produto casual da realidade econômica. O governo FHC vem
favorecendo escandalosamente os grandes bancos. As altas taxas de juros
possibilitam ganhos fantásticos para os banqueiros, muito ampliados pelos
negócios com os títulos da dívida interna.
Os juros altíssimos também significam uma espoliação brutal dos que são
obrigados a tomar empréstimos ou qualquer outro mecanismo financeiro como o
cheque especial. Segundo a Associação Nacional de Defesa dos Consumidores
(ANDIF), um empréstimo de 1000 reais tomado numa financeira pode se
transformar, em apenas um ano, numa dívida de 3800 reais. Se esses mesmos
1000 reais fossem aplicados na poupança valeriam menos de 1100 reais no
mesmo prazo de um ano.
Como se isso não bastasse, o governo tem injetado dinheiro público, de forma
direta ou indireta nas instituições financeiras. A medida mais escandalosa
desse favorecimento foi a criação do Programa de Estímulo à Reestruturação e
ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, mais conhecido como Proer.
O total do dinheiro do Proer gasto para favorecer os banqueiros foi de US$
23 bilhões, mais do que o orçamento da Educação e Saúde juntas.
O sistema financeiro é uma expressão do que existe de mais parasitário na
economia capitalista. Obtém lucros enormes sem cumprir praticamente nenhum
papel de investimento real na produção. Mas, são capazes de detonar
processos especulativos sobre o conjunto da economia, caso sintam que assim
podem ganhar mais dinheiro ou desestabilizar adversários.
Esse é um dos motivos pelos quais o PSTU defende a expropriação dos bancos
privados, sem indenização aos banqueiros e a estatização do sistema
financeiro sob controle dos trabalhadores.
Só a estatização do sistema financeiro permitirá baixar os juros, terminar
com a especulação financeira e centralizar a política de investimentos. Só o
controle dos trabalhadores sobre as institui-ções financeiras garantirá uma
orientação que privilegie o financiamento à in-dústria, à agricultura e a
construção de casas populares e não a especulação. O Plano de Obras
Públicas, citado várias vezes neste texto, não teria a menor chance de ser
implementado, caso não se escape do controle dos grandes bancos.
Os banqueiros já tiveram lucros exorbitantes durante todos estes anos. Por
isso não devem ser indenizados. Ao contrário, será necessária uma auditoria
sobre todos os bancos privados para identificar desfalques e irregularidades
e punir os responsáveis.
A estatização do sistema financeiro não significará o confisco da poupança
dos pequenos correntistas. O PSTU rejeita categoricamente roubos
"legaliza-dos", como o confisco das cadernetas de poupança do Plano Collor.
Ao contrário, a estatização do sistema financeiro é a única medida que pode
proporcionar crédito barato e acessível às camadas menos favorecidas da
população. Os grandes banqueiros privados atuam com a lógica da agiotagem,
da especulação e dos lucros astronômicos. Só bancos estatais podem garantir
crédito amplo para duas questões essenciais para o conjunto da população:
moradia e terra.
Para realizar uma Reforma Agrária é essencial o apoio dos bancos para o
assentamento das famílias sem-terra. Esse apoio é fundamental também para
garantir crédito barato aos pequenos agricultores. Só um sistema financeiro
estatizado pode garantir esse crédito para todos.
Também nesse ponto temos nossas diferenças com o programa de Lula: o PT não
se propõe a expropriar os bancos, por querer ter boas relações com os
banqueiros. Mas o dilema segue: ou os bancos seguem controlando o Estado,
assim como o governo, ou o Estado expropria os bancos, tirando-os das mãos
dos banqueiros, acabando com os juros altos e a especulação.