I. Não às privatizações! Pela reestatização das empresas privatizadas!
Os escândalos em torno da privatização da Vale do Rio Doce e da Telebrás
ajudam a demonstrar as sujas negociatas que estiveram por trás desses
negócios multimilionários e fraudulentos.
O desastre do apagão no ano 2000 clarificou o retrocesso que significou para
o país as privatizações no setor elétrico. Demonstrou que a burguesia, cada
vez mais parasitária, não tem sequer a capacidade de um investimento sério e
planejado em longo prazo, dedicando-se simplesmente a rapina do lucro
rápido.
Esta é a síntese das privatizações: negociatas para garantir a passagem de
um patrimônio nacional para as mãos de alguns burgueses e retrocesso nas
forças produtivas pela dedicação ao lucro rápido.
O Estado investiu dinheiro público, isto é, nosso dinheiro, na rede
elétrica, de telefones e telecomunicações em geral, e na construção empresas
petroquímicas e siderúrgicas. Agora o governo repassa todo esse patrimônio
riquíssimo, praticamente de graça, para empresários privados.
O patrimônio da Telebrás era avaliado em mais de 120 bilhões de reais. Esta,
que era uma das maiores empresas estatais do mundo, foi vendida por 22
bilhões de reais, ou seja, menos de um quinto do seu valor. Metade do
dinheiro obtido com a venda das estatais vem das chamadas "moedas podres",
títulos da dívida externa brasileira (comprados por 30% do seu valor e que o
governo brasileiro aceita como se valessem 100%), títulos da dívida agrária,
etc. Ou seja, papéis que não valem nada. Como se não bastasse, o governo
ainda financia uma parcela da compra através do BNDES.
Qual o balanço geral da privatização das empresas estatais? O governo dizia
que a venda destas empresas traria grandes benefícios para o país, porque
poderia utilizar o dinheiro da venda investindo na solução dos problemas
sociais, além de que as empresas compradoras trariam novos investimentos
para o país. Na verdade, o que aconteceu foi que o pouco dinheiro que entrou
com a venda das estatais (descontando as moedas podres, o financiamento da
compra pelos próprios bancos estatais, a redução escandalosa do valor das
empresas, etc) foi utilizado para pagar as dívidas interna e externa (e
mesmo assim elas subiram).
Por outro lado, não houve o investimento apregoado pelo governo. Ao
contrário, o que se vê com o sistema elétrico é a comprovação que o capital
não se dispõe a investimentos em longo prazo, se dedicando a rapina, aos
lucros rápidos.
Além disso, ao perder estas empresas para o capital estrangeiro, elas passam
a remeter seus lucros para o exterior. A remessa de lucros e dividendos para
o exterior passou de 9 bilhões de dólares na década de 80 para 32 bilhões na
década de 90. A tendência é que se amplie ainda mais a remessa de lucros
nesta década atual.
Por outro lado, também há conseqüências práticas desastrosas para o país
como um todo. O setor de telecomunicações, a produção e distribuição de
energia elétrica, petroquímica e siderurgia, enfim, todos esses são setores
estratégicos da economia de qualquer país do mundo, porque compõem junto com
o setor pe-trolífero a infra-estrutura necessária para a produção.
Com a venda das estatais, a maior parte desses setores estratégicos passa a
ser controlado por grandes multinacionais que podem impor sua política de
preços, de crédito, de prioridades, etc. O Brasil se torna cada vez mais
de-pendente da política e da decisão das grandes multinacionais, perdendo
sua soberania.
O caso da Telebrás mostra com clareza essa entrega: a empresa
norte-americana MCI, agora é a dona da Embratel, empresa do grupo Telebrás
que controla a transmissão de dados via satélite e a telefonia
internacional. Isso é simplesmente a comunicação do Brasil com o resto do
mundo. A Telefônica de España controla a Telesp, maior empresa de telefonia
fixa do país e a Portugal Telecom é dona da Telesp Celular. Uma nova
colonização 500 anos depois.
Este favorecimento ao capital privado tem conseqüências concretas para os
trabalhadores e o povo brasileiro. Os trabalhadores das estatais já estão
sofrendo um brutal ataque dos empresários que compraram as estatais. Com o
objetivo de obter enormes lucros o mais rápido possível, os empresários
tratam de aumentar a produtividade, acelerando a produção e demitindo
trabalhadores.
O Estado ao desobrigar-se cada vez mais dos serviços públicos só favorece às
empresas. E os empresários só têm um critério: o lucro. Isto significa: que
se danem os serviços! Quem sofre com as conseqüências são os consumidores,
principalmente as parcelas mais pobres da população.
O sofrimento destes setores, inclusive, também pode ser analisado do ponto
de vista racial. Em primeiro lugar, a grande maioria dos usuários dos
serviços públicos é notoriamente formada por negros e negras. Em segundo
lugar, há um outro importante elemento: as privatizações têm incidido no
aumento do desemprego na população negra.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Bancários de São
Paulo, na década de 90, apenas 1% dos trabalhadores do sistema financeiro da
maior cidade do país era negra (afinal, dentro da lógica das elites, negros
e negras não são confiáveis para mexer com dinheiro!!!). Já nos bancos
públicos, este índice subia para 4%. Essa enorme distorção deve-se em grande
medida a um único elemento: nos concursos públicos, os futuros patrões não
têm condições de utilizar o hipócrita e absurdo critério da "boa aparência".
Ou seja, negros e negras não são obrigados a passar pelo crivo dos olhares
racistas da patronal.
Por tudo isso, colocamos como uma tarefa de primeira ordem a reestatização
imediata de todas as estatais privatizadas. A reestatização é uma
necessidade do país para recuperar sua soberania. E é uma necessidade para
melhorar o nível de vida dos trabalhadores e do povo em geral.
Mas nós vamos além da defesa da reesta-tização. Nossa posição é de que não
se deve indenizar nenhum dos atuais donos das ex-estatais. E nossas razões
são muito fortes.
Em primeiro lugar, porque a maioria dessas empresas, como já explica-mos,
não desembolsou quase nada para adquirir as estatais. Em segundo lugar,
porque já obtiveram lucros enormes no período em estiveram de posse das
estatais. E em terceiro lugar, porque causaram enormes prejuízos aos
trabalha-dores, como as demissões e a superexploração, e aos consumidores,
aumentando tarifas e rebaixando a qualidade dos serviços.
Reestatizar as empresas privatizadas não quer dizer voltar à situação
anterior onde uma direção burocrática, ineficiente e corrupta tinha enormes
privilégios. O PSTU defende o fim do privilégio dos dirigentes das estatais
e o controle dos trabalhadores sobre as empresas reestatizadas. O primeiro
passo nesse sentido seria a eleição direta das direções destas empresas por
seus funcionários.