L. Ensino público e gratuito
O Ensino Público no Brasil hoje não garante sequer as condições para que a
população tenha a Educação mais elementar. A dura realidade da Educação no
Brasil pode ser conferida com alguns dados contundentes.
No nível básico, por exemplo, nove em cada dez crianças de zero a três anos
não freqüentam creches; 31,4% da população, com mais de 10 anos, pode ser
considerada analfabeta ou analfabeta funcional e 59,9% da população, com
mais de 10 anos, não conseguiu concluir o ensino fundamental.
Isso se dá, em primeiro lugar, porque o governo não dá condições para as
crianças freqüentarem a es-cola. Hoje, cerca de 2,7 milhões de crianças,
entre 7 e 14 anos, estão fora da escola, a maioria delas por falta de vagas
em escolas próximas ao seu local de moradia, tornando impossível à ida a
escola.
Em segundo lugar, porque não garante que as crianças alcancem a escolaridade
mínima para uma Educação básica. Mais de 65% das crianças matriculadas na
primeira série não concluem o ciclo fundamental. Das que terminam, apenas 3%
faz nos oito anos regulares.
A expressão máxima do descaso com o ensino básico é o fato de não se
conseguir erradicar o analfabetismo, uma vergonha, que continua sendo um dos
elementos importantes para o atraso do país.
As escolas públicas de Ensino Médio e Fundamental têm sofrido profundos
ataques. A diminuição da grade curricular (pós 97), por exemplo, acarretou e
segue acarretando o fechamento de salas de aula e a demissão massiva de
professores. O que assistimos é a deterioração das condições de ensino com a
superlotação das salas, falta de material didático, etc. O ensino à
distância, o ensino por ciclos, ou mesmo a aplicação da progressão
continuada em vários Estados, onde o aluno passa automaticamente de série,
buscam, na verdade, diminuir o tempo necessário para formar o aluno.
Por outro lado, buscam o barateamento, cada vez maior, dos custos com a
Educação, além de adaptá-la ao mercado.
Na outra ponta da Educação, o nível superior, a realidade não é menos
dramática: existe um pequeno número de vagas oferecido pela universidade
brasileira, sendo que a maioria delas está em escolas privadas. O número de
jovens que saem do ensino médio é de aproximadamente 1.853.343 milhões a
cada ano, para apenas 776.031 vagas oferecidas ao todo no ensino superior.
Destas, 570.306 estão na rede privada, 206.275 nas públicas e somente 90.788
nas federais (PNE/Dados de 1998).
Nas regiões mais desenvolvidas do país (Sudeste e Sul), a proliferação do
ensino pago é ainda maior: no Estado de São Paulo, por exemplo, surge uma
nova "universidade" privada a cada 7 dias (!) e 82% dos estudantes já estão
na rede privada; em Santa Catarina este índice é de 80%.
Enquanto em São Paulo, o ensino superior privado responde por 82% das
matrículas, no Sul, 65% são do ensino privado e 35% do público. No Nordeste,
a relação é de 55% privado e 45% público.
Vale ressaltar aqui, que há menos de uma década essa relação era inversa. O
que assistimos nos últimos cinco anos é um crescimento acelerado das
faculdades pagas. A região Norte é a única onde ainda há mais oferta de
ensino público do que privado.
Enquanto os índices de estudantes em universidades pagas nos outros países
da América Latina não ultrapassam a casa dos 17% (Bolívia (10%), Argentina
(16%) e México (17%), no Brasil este índice é de 62,14%. Dos 2.125.958
estudantes universitários brasileiros, 1.321.229 estão na iniciativa
privada. Mesmo nos EUA, muitas vezes usado como modelo de privatização, este
índice é de 22% (Gazeta Mercantil, 1999).
A universidade pública vive uma crise dramática com corte de verbas,
congelamento salarial para docentes e funcionários, ataques do governo à
autonomia universitária, etc. Enquanto isso, as universidades pagas têm hoje
à sua disposição uma liberdade tal, que permite a seus donos lucrarem cerca
de R$ 5 bilhões ao ano.
Toda essa realidade da Educação no Brasil coloca nosso país numa situação
incomparavelmente inferior em rela-cão, não só aos países desenvolvidos,
mas, inclusive, diante de países cuja economia é igual ou inferior à
brasileira.
Os trabalhadores brasileiros possuem uma escolaridade média de apenas 3,8
anos; contra 8,7 dos argentinos; 7,5 dos chilenos; e 11 dos sul-coreanos.
Todo o projeto da reforma educacional de FHC e Paulo Renato se baseia na
estratégia proposta pelo Banco Mundial, concretizada no Brasil através da
aprovação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases), em dezembro de 1996. Essa
instituição, controlada pelo governo norte-americano, inclui exigências de
ajustes estruturais na economia dos países que recebem seus empréstimos.
Entre essas exigências estão reformas na estrutura do ensino desses países,
sob a base do descomprometimento do Estado com o financiamento e com uma
mudança radical do ensino, adequando-o às necessidades do mercado, ou seja,
uma formação mais rápida e barata.
Essas reformas seguem quatro diretrizes básicas:
- A primeira é que o Estado fomente a diversificação das instituições de
ensino e o crescimento do número de instituições privadas do setor. Essa já
é a realidade do ensino superior brasileiro. Cerca de 60% dos universitários
brasileiros estão em escolas privadas.
- A segunda orientação é que as instituições públicas diversifiquem as
fontes de financiamento, centrando esse esforço principalmente na
parti-cipação dos estudantes nos gastos, através de taxas e outros
mecanismos. Nas universidades assistimos a uma cobrança abusiva de taxas (a
meta do governo é que 30% dos gastos saiam disso), a presença de cursos
diretamente pagos em especial na pós-graduação, além da presença cada vez
maior das fundações privadas, ocupando e se utilizando indiscriminada-mente
da universidade pública. Hoje, o governo busca a todo custo aprovar seu
projeto de lei de Autonomia Universitária, que além de aprofundar estas
medidas, acaba com a carreira e a estabilidade de professores e
funcionários.
No ensino médio e fundamental, projetos como Amigos da Escola e Parceiros do
Futuro, que são outros dois projetos previstos na nova LDB, vêm nessa mesma
direção, de jogar nas costas da comunidade a responsabilidade pela
sustentação da escola pública (principalmente de ensino médio).
- A tercei-ra diretriz é que na medida em o governo busca reduzir ao máximo
a participação do Estado no financiamento da Educação, ao mesmo tempo busca
aumentar o seu papel de controle, avaliação e fiscalização. Ou seja, o
Estado deve aumentar o controle político e ideológico sobre o ensino, o que
significa um aumento da inspeção escolar, de medidas repressivas e
disciplinares, etc.
- Por fim, essas reformas buscam adaptar o ensino às demandas do mercado de
trabalho e às exigências do capital. Essa adaptação se dá em todos os níveis
da Educação. No ensino médio, essa orientação produziu a desvinculação do
ensino técnico do ensino de segundo grau.
No ensino superior, isso significa que, inclusive as instituições públicas,
devem adaptar-se às exigências dos grandes monopólios, com a adoção de
cursos breves, de no máximo dois anos, voltados para as aplicações
"práticas". O que significa para a mera reprodução dos conhecimentos
científicos e tecnológicos, importados dos centros industriais dos países
desenvolvidos, e não para as necessidades científicas e tecnológicas do
país.
Todas essas diretrizes vêm sendo aplicadas à risca pelo governo FHC e têm
como conseqüência direta à falta de vagas nas escolas, a diminuição de
verbas fede-rais para a Educação e a crise da Universidade pública.
Mas, isso é só o começo, caso o FMI e os EUA consigam implementar a ALCA, a
Educação pública sofrerá um retrocesso ainda maior no país. Existem já
vários acordos feitos no âmbito da OMC, que através da ALCA serão postos
em prática. Um dos pontos cruciais é a inclusão da Educação como setor de
serviços, ou seja, a Educação deixa de ser um dever do Estado e um direito
do povo e passa a ser um serviço, portanto, como tal deve ser comprado e
negociado a partir das leis do mercado.
Com a ALCA, uma empresa estrangeira de Educação terá o direito de
reivindicar as mesmas verbas das escolas públicas, com o argumento de
garantir direitos iguais para livre concorrência. Se o Estado não cumprir
essas regras poderá sofrer sérias sanções e pagar multas exorbitantes.
O governo deixa de investir na Educação pública e passa a subsidiar o ensino
privado. "O projeto de privatização do ensino e da pesquisa nos países
latino-americanos, prevê que os recursos do Estado sejam canalizados para
suprir as necessidades da iniciativa privada".
Com a ALCA o país perde o poder de determinar a qualidade do ensino, o
conteúdo de seus currículos, etc, sendo obrigado a reconhecer qualquer
currículo que venha de fora, por pior que seja. Será um problema de tempo o
fim de todas as escolas públicas, desde o nível básico às universidades.
Para que essa situação seja mudada radicalmente; para que a Educação seja de
fato um fator de desenvolvimento do país; para que se erradique o
analfabetismo, é preciso que haja uma verdadeira revo-lução no sentido
oposto ao que o governo vem fazendo.
Em primeiro lugar temos que impedir a ALCA e deixar de pagar a dívida
externa e interna para que, de fato, o dinheiro do povo seja investido na
Educação e não para engordar os bolsos dos banqueiros e empresários
internacionais e nacionais.
O PSTU se pronuncia totalmente contra a Reforma Educacional do governo FHC e
contra a ingerência do Banco Mundial na Educação nacional.
O PSTU defende o financiamento integral do ensino básico, médio e superior
como um dever do Estado. Ou seja, o Estado deve garantir ensino público e
gratuito para todos.
Isso significa que a Educação não pode ser tratada como um negócio que tem
como objetivo o lucro e que vende um produto que só é fornecido aos que
podem comprá-lo.
Para garantir ensino público para todos é preciso acabar com o mercantilismo
na Educação e os enormes lucros que as instituições de ensino particulares
vêm obtendo. Por isso, o PSTU defende o fim do ensino pago. Nenhum tostão
para subsidiar os programas de parceria das escolas e universidades com as
empresas. Fim dos subsídios e incentivos do Estado para expansão da rede
particular, com as bolsas de estudo para as escolas pagas e o financiamento
estudantil (FIES) para as faculdades particulares.
Redução das mensalidades nas escolas e faculdades particulares! Em defesa
dos inadimplentes! Anistia das dívidas imediatamente! Nenhum estudante fora
da escola; todos têm direito de freqüentar as aulas, realizar provas e
solicitar transferências a qualquer momento!
O PSTU defende a estatização de toda a rede par-ticular de ensino sem
indenização, sob o controle da comunidade escolar. Somos pelo fim do
vestibular e que se garanta vaga na universidade para todos que terminem o
ensino médio.
Defendemos o aumento geral de vagas, para garantir o acesso de todos à
Educação pública em todos os níveis, com o dinheiro da dívida.
Somos contra a inspeção e os órgãos de supervisão escolar! Defendemos um
Conselho Nacional de Educação e conselhos estaduais e municipais compostos
paritariamente por trabalhadores em Educação, estudantes e representantes
dos sindicatos e entidades populares, eleitos democraticamente e com
mandatos revogáveis.
O PSTU se pronuncia contra o repasse de verbas, vinculados aos chamados
"padrões de qualidade e produtividade" impostos pelo MEC e pelas secretarias
de Educação. Esse mecanismo é uma forma de desobrigar o Estado do ensino
público e incentivar busca por verbas privadas.
Defendemos o fim do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Exame Nacional
de Cursos de Ensino Superior ("provão") que são utilizados para classificar
as instituições de acordo com a imposição destes critérios.
Somos contra a subordinação do ensino às exigências dos grandes mono-pólios
e do mercado. Somos pela autonomia didática, pedagógica e de gestão
financeira das escolas e universidades.
O PSTU defende a universalização do ensino politécnico, garantindo o ensino
da cultura, do conhecimento e da ciência, onde a teoria e a prática estejam
estreitamente vinculadas ao processo de ensino/aprendizagem.
Defendemos também a plena liberdade de pesquisa científica e do uso do
conhecimento. O PSTU se pronuncia contra a privatização das descobertas
científicas e do conhecimento através da Lei de Patentes e exigimos sua
revogação.
O PSTU propõe a eleição direta para diretores e conselhos de escola, para
reitores e órgãos colegiados das Universidades através do voto de
professores, estudantes e funcionários. Esses organismos, com a participação
da comunidade, devem ter autonomia didática, pedagógica e de gestão
financeira, assim como controlar a qualidade do ensino.
Uma mudança radical na qualidade do ensino só será possível adotando uma
política de valorização e formação de pessoal docente, oposta a do governo
FHC. Uma política desse tipo deve começar por estabelecer o regime jurídico
único e a estabilidade no emprego para os docentes e servidores das escolas
e universidades.
Defendemos também uma política salarial para os professores que estabeleça o
salário mínimo do Dieese para um regime de 20 horas semanais.
Somos contra a municipalização do Ensino e a criação do Fundo de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (o
chama-do "Fundão" ou Fundef). Essas medidas fazem parte de um plano para
socializar o corte de verbas públicas e incentivar a privatização do ensino
através da municipalização.
Por outro lado, para manter os estudantes na escola, é preciso não só uma
política para a Educação, mas também medidas de cunho social que permitam
que os estudantes pobres possam estudar sem a obrigação de trabalhar para
ajudar na manutenção da família. Só assim se pode atacar a evasão escolar.
Por isso defendemos também uma política de assistência aos estudantes. Os
jovens filhos de trabalhadores muitas vezes não conseguem chegar a escola ou
faculdade devido aos preços absurdos das passagens do transporte público. Os
jovens muitas vezes são obrigados a pagar mensalidades absurdas nas escolas
e universidades particulares, e nas escolas e universidades públicas a pagar
caro pelo material didático e de laboratório, além de inúmeras taxas para
todo e qualquer tipo de serviço.
O PSTU defende o direito ao passe livre para todos os estudantes de todos os
níveis sem limite de idade, que todos de fato possam ter acesso à Educação.
Propomos também que o Estado garanta a assistência médico-odontológica e
social gratuitas para todos os estudantes. Por assistência social entendemos
a alimentação em restaurantes escolares (se necessário, principalmente no
caso das universidades e escolas técnicas) e moradia para os estudantes.
Para financiar a Educação defendemos a aplicação plena e direta de, no
mínimo, 18% da receita tributária da União e 25% para os Estados e 30% para
os municípios. Além disso, defendemos dobrar o orçamento dos atuais 17,9
para 35,8 bilhões de reais com a verba do não pagamento da dívida externa.