M. Em defesa da Saúde pública e gratuita
A situação da Saúde pública no Brasil de FHC pode ser exemplificada com a
epidemia da dengue. Esta doença se alastrou rapidamente em 2002 porque o
Plano de Erradicação do Aedes Aegypti (o mosquito transmissor da dengue),
criado em 1996, previa que fosse necessário aplicar R$ 4,5 bilhões para
acabar com o mosquito em quatro anos. A Fundação Nacional da Saúde (Funasa)
investiu três vezes menos: 1,5 bilhões de reais nesses quatro anos.
Essa epidemia não foi um acaso. Foi uma opção consciente, de rebaixar a
verba para a Saúde para que o governo pudesse obter o superávit nas contas,
para cumprir as metas do FMI e pagar aos banqueiros os juros da dívida
interna. Eis como a decisão de alguns burocratas a serviço do FMI determina
a vida e a morte de tantas pessoas.
O plano do governo para a Saúde tem duas caras. Em primeiro lugar sucateia a
Saúde pública com o corte de verbas. Em segundo, estimula a privatização dos
serviços e faz vistas grossas aos desmandos dos grandes grupos que controlam
a assistência médica e a produção de medicamentos no país.
O objetivo é repassar os serviços de Saúde pública, atualmente geridos pelo
Estado, para as chamadas organizações sociais, supostamente entidades sem
fins lucrativos, que funcionariam por meio de parcerias com o Estado,
através de contratos de gestão dos hospitais.
Na verdade, por trás dessas organizações sociais estão as grandes "em-presas
de saúde", como a Amil, Blue Life, etc, que já conseguem enormes lucros se
aproveitando da precariedade do sistema de Saúde pública no Brasil.
Os planos de saúde agora podem criar suas próprias organizações sociais e
inclusive gerir hospitais públicos através delas. O Estado repassará a essas
organizações sociais, 70% das verbas destinadas antes a esses hospitais. O
restante das verbas necessárias pode ser captado por essas organizações
através do atendimento aos conveniados dos próprios planos de saúde.
Hoje o Hospital das Clínicas de São Paulo já tem 10% dos seus atendimentos
reservados para pacientes dos planos de saúde. No Hospital do Coração, 20%
dos atendimentos são desses convênios.
Os que mais lucram com as doenças da população são os laboratórios
multinacionais que dominam mais de 80% da indústria farmacêutica. O setor de
remédios cresceu quase 200% de 1992 - 1998, passando de 3,7 bilhões de
dólares a 10,6 bilhões de dólares em 1998, segundo projeção da Abifarma
(Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica).
Segundo a Abifarma, o Brasil é um dos maiores mercados do mundo para a
expansão dos laboratórios. É escandaloso como remédios simples rendem
enormes lucros para as multinacio-nais. Só o antiinflamatório Cataflan, por
exemplo, rendeu 123 milhões de dólares para o laboratório Novartis.
Enquanto isso, em paí-ses como a Inglaterra e a Espanha, os remédios são
comprados pelo Estado a preços reduzidos e distribuídos gratuitamente ou a
preços mínimos para os apo-sentados e inscritos na previdência social.
Para as mulheres, a falta de investimento na Saúde significou no ano de 2000
que a cada duas horas morreu uma mulher por complicações na gravidez, parto
ou pós-parto, atingindo um índice de 134 mortes por 100 mil nascidos vivos,
segundo o próprio Ministério da Saúde. 98% dos casos de
morbidade/mortalidade materna, no Brasil, poderiam ser evitadas se houvesse
acesso aos serviços de Saúde no período de gestação e atendimento na hora do
parto.
Garantir a saúde da população é um dever do Estado. A saúde não pode ser uma
mercadoria submetida à ganância das multinacionais e dos especuladores.
Coerente com esse princípio, o PSTU defende a expropriação sem indenização
dos grandes laboratórios farmacêuticos e das redes de distribuidoras e
farmácias.
A política do governo é cortar verbas, demitir servidores e privatizar os
serviços. O PSTU defende uma política oposta. Defendemos que a Saúde pública
e gratuita em todos os níveis (desde os mais primários aos mais complexos) é
um dever do Estado e um direito de todos. Somos contrários que os planos de
saúde, clínicas e hospitais particulares continuem lucrando através da
exploração da vida de uma parcela importante da população brasileira.
Ao mesmo tempo, nos pronunciamos contra essa discriminação vergo-nhosa entre
cidadãos de primeira classe, que têm acesso aos planos de saúde, e de
segunda classe, que são atendidos por uma Saúde pública que dispõe de
condições precárias.
O PSTU defende a estatização sem indenização dos hospitais e clínicas
particulares, dos planos de saúde e demais empresas do setor. Toda a Saúde
deve ser pública e o atendimento democrático, igualitário e gratuito.
Todos os hospitais e demais instituições públicas devem ter seus dirigentes
eleitos diretamente pelos funcionários que nelas trabalham.
Defendemos também dobrar o investimento público em Saúde (dos atuais 27,9
para 55,8 bilhões de reais) com recursos hoje destinados ao pagamento da
dívida interna e externa. Ao mesmo tempo, essa prioridade deve estar
estreitamente relacionada com um Plano de Obras Públicas que dê especial
atenção ao saneamento público, um dos principais motivos de boa parte das
doenças da população pobre do país. Isso significaria priorizar a construção
de rede de esgoto em todos os bairros populares, garantir água tratada para
todas as residências, canalização de córregos, recolhimento regular de lixo,
etc.