P. A defesa do meio ambiente e da Amazônia
A ação humana modifica o meio ambiente. Pode se realizar em maior equilíbrio
com a natureza ou causar uma desastrosa degradação ambiental. Podemos sentir
diretamente os efeitos do capitalismo decadente sobre os homens e mulheres a
nossa volta, cortando nossos salários e empregos. Um ataque de dimensões
semelhantes, ameaçador e revoltante, está sendo cometido contra a natureza.
Existe uma destruição do meio ambiente em escala global, com efeitos que
podem atingir brutalmente a humanidade. Nunca em sua história, o capitalismo
modificou de forma tão agressiva e destrutiva a natureza como agora. Já
existem sinais de grandes mudanças no clima, como as secas na Amazônia,
enchentes no Brasil e Argentina, derretimento de geleiras próximas aos
pólos.
A poluição atmosférica e dos rios nas grandes cidades são só os efeitos mais
visíveis de uma séria ameaça ambiental a toda a humanidade. O efeito estufa,
causado pela emissão em grandes quantidades de gás carbônico (pela queima de
petróleo, carvão mineral e gás), vai aquecendo o planeta e gerando estas
mudanças climáticas.
O imperialismo norte-americano, responsável sozinho pela emissão de 25% dos
gases do planeta, se recusa a assinar até mesmo um tratado limitado e tímido
como o de Kyoto (que prevê uma redução gradualíssima da emissão de gases até
2050). O governo Bush, apoiado e financiado pelas empresas de energia dos
EUA, não quer aceitar nenhuma limitação a atuação destas empresas,
enfraquecendo e quase inviabilizando qualquer acordo.
A diminuição da camada de ozônio, pela emissão dos clorofluocarbonetos, é
outra das ameaças globais à natureza e aos seres humanos. As radiações
ultravioletas, que podem atingir a humanidade, terão graves efeitos sobre a
pele das pessoas.
É pela destruição do meio ambiente que os ecologistas criaram o conceito da
dívida ecológica. Assim como uma pessoa que destrói qualquer coisa deve ser
penalizada e obrigada a repor os danos, um governo deve ser obrigado a pagar
pela contaminação dos oceanos, pelo desmatamento das florestas, efeito
estufa, destruição da camada de ozônio, etc.
Começam a se levantar vozes em defesa do pagamento de uma dívida real, de
significado oposto ao da dívida externa. A dívida ecológica é, na verdade,
uma dívida dos países imperialistas com os nossos países e povos submetidos
às agressões ao meio ambiente que eles cometeram e seguem cometendo.
As grandes empresas multinacionais abrem novas fronteiras para seus lucros
com a destruição da natureza. Através das leis que protegem os "direitos de
propriedade intelectual", como as que virão com a ALCA, podem patentear não
só invenções originais, mas também sementes, plantas e animais. Com isso,
podem patentear como suas, as sementes e produtos de comunidades camponesas
ou indígenas, e exigir o pagamento de royalties.
Podem também impor seus produtos transgênicos, cujos efeitos sobre a saúde
das pessoas não estão claramente definidos, como reações alérgicas, aumento
da resistência a antibióticos ou o surgimento de novos vírus. Diferente dos
poluentes químicos, os transgênicos são seres vivos, que podem se
disseminar, multiplicar, sofrer mutações, etc, e podem gerar efeitos
incontroláveis. Mas, na lógica das grandes multinacionais, como a Monsanto
ou a Novartis, isso pode dar muitos lucros.
Essas multinacionais poderão com estas leis da ALCA patentear todas as
plantas e microorganismos da Amazônia. O Brasil detém 22% das espécies
vegetais da flora conhecida de todo o mundo. Além disso, a quantidade de
espécies animais e vegetais que vivem na Amazônia ainda é, em grande parte,
desconhecida. Mais de 30 mil tipos de plantas já foram catalogados, mas
estima-se que outros 20 mil permaneçam desconhecidos. Segundo o Greenpeace,
nos rios da Amazônia existem 30 vezes mais tipos de peixes que em todos os
rios da Europa.
As empresas farmacêuticas movimentam mais de 40 bilhões de dólares por ano
em produtos a partir de componentes originários de florestas tropicais e têm
um enorme interesse na Amazônia. O Ibama calcula que a biodiversidade
brasileira, hoje vale mais do que quatro vezes o PIB nacional.
A Amazônia está sendo devastada com o desmatamento. Com o esgotamento
crescente da cobertura florestal do Sudeste Asiático e da África Central, a
Amazônia passou a ser encarada como a principal fonte de madeira tropical
das próximas décadas. O corte de árvores é o principal fator de destruição
da cobertura florestal nativa da Amazônia, sendo que 80% da madeira
explorada na Amazônia tem origem ilegal.
A Amazônia como um todo é uma das pretensões imperialistas. Além da
biodiversidade, tem uma enorme importância por sua extensão (mais de 6
milhões km2, com a maior parte no Brasil) , por ter 2/3 das florestas
tropicais úmidas do planeta, e por ser o maior reservatório de água doce da
Terra. Quase 1/5 de toda a água do globo flui através de seus rios. E a água
será cada vez mais essencial pela previsão de escassez para o futuro. Já foi
denunciado que em livros escolares norte-americanos a Amazônia é apresentada
como "território sob jurisdição internacional" e não como parte do Brasil.
Caso a ALCA seja imposta ao país, não haverá nenhuma forma de defender a
natureza. O "acordo" da ALCA impõe que nenhum governo pode impedir qualquer
empresa dos EUA de conseguir seus lucros, mesmo que seja à custa de despejo
de resíduos tóxicos em um manancial de água potável. Um tribunal
internacional, sob controle dos EUA, dará ganho de causa a empresa
norte-americana, mudará a decisão do governo e ainda o obrigará a pagar uma
multa para a empresa, sob a argumentação de que está se limitando os lucros.
Toda luta ecológica séria não pode parar nos limites do "desenvolvimento
sustentável". É preciso abolir a dominação das empresas multinacio-nais e
seus modelos de produção e consumo para recompor o equilíbrio com a
natureza. É preciso evitar a ALCA para defender a ecologia em nosso país.
Defendemos a abolição da lei das patentes. A humanidade deve utilizar o
conhecimento para seu próprio benefício, é incorreto, portanto, considerá-lo
um monopólio. Menos ainda pode existir propriedade intelectual sobre
qualquer tipo de forma de vida vegetal, animal ou humana.
Defendemos multas e sanções severas às empresas poluentes da atmosfera, rios
e mares, e às devastadoras de nossas florestas.
Repudiamos qualquer tentativa de controle territorial da Amazônia pelo
imperialismo. Nesta região deverão ser criadas Reservas Extrativistas,
espaços territoriais destinados à exploração e conservação dos recursos
naturais renováveis, por populações com tradição no uso de recursos
extrativos.