T. Abaixo a violência contra os homossexuais
Para muitos, principalmente os mais conservadores (mas não só eles), hoje,
gays, lésbicas, travestis e transexuais estão vivendo numa espécie de
"paraíso". Afinal, várias cidades tiveram leis antidiscriminação aprovadas;
alguns juízes têm deixado o preconceito de lado na realização de julgamentos
em determinados casos; passeatas com dezenas e centenas de milhares de
pessoas cruzam as ruas das principais cidades do país, sem nenhuma
hostilidade por parte da polícia; o cinema, a TV, o teatro, jornais e
revistas têm abordado o tema com freqüência e muita gente tem saído do
armário sem que o mundo desabe sobre si.
Entretanto, é fundamental que entendamos em que termos e em que situações é
possível à sociedade capitalista conceder visibilidade a gays, lésbicas e
transgêneros. Assim como os negros saíram da escravidão diretamente para as
favelas, os homossexuais estão saindo da invisibilidade diretamente para os
espaços cercados e controlados dos guetos. Esses guetos, de espaços
legítimos criados espontaneamente pelos próprios homossexuais em busca de
segurança, reconhecimento e liberdade estão sendo instituciona-lizados pelo
interesse econômico, com anuência explícita das administrações públicas
inclusive do PT, em busca de novos mercados no meio da crise sistêmica
mundial. As paradas gays, sem deixar de ser uma conquista importante do
movimento GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Travestis), perdem seu caráter
de luta, ganham forma de espetáculo e passam ao controle de empresas
interessadas em usá-las como vitrine de produtos voltados para o setor,
assim como explorá-las turisticamente. As paradas também são guetos onde há
liberdade delimitada no tempo de uma tarde e no espaço de uma avenida.
As recentes conquistas do movimento GLBT, portanto, são avanços, mas estão
longe de expressar a realidade da situação de gays, lésbicas, travestis e
transexuais tal qual ela realmente é. A homofobia, ou seja, a discriminação,
a opressão e o preconceito praticados contra os homossexuais ainda são
enormes. Segundo levantamento do GGB (Grupo Gay da Bahia), realizado em 11
dos 26 estados brasileiros, cerca de 100 homossexuais e transgêneros são
assassinados anualmente por razões homofóbicas. As vítimas são na grande
maioria das vezes de regiões pobres da periferia dos centros urbanos. Essa
combinação de pobreza e homossexualidade também acarreta problemas em várias
esferas da vida social, pessoal e profissional.
Infelizmente, durante muito tempo, esta terrível situação foi inteiramente
menosprezada pelos movimentos de esquerda. Ainda mais lamentável é o fato de
que em vários países em que esses movimentos chegaram ao poder, a
discriminação não só não foi eliminada, como, na verdade, foi intensificada.
Basta lembrar o nefasto exemplo dos "campos de reeducação" que se espalharam
pelos países que surgiram sob a égide do stalinismo e, particularmente, o
caso de Cuba.
Para o PSTU, essas práticas não significam apenas máculas na história da
luta revolucionária, representam também o tipo de sociedade que não queremos
construir.
As diferentes formas de opressão, como a homofobia, são disseminadas
ideologicamente através da escola, na família, pela Igreja e pela mídia
burguesa e incidem intensamente sobre os setores sociais mais explorados. É
estratégico para a burguesia manter as opressões, não só para aumentar os
índices de exploração, mas para manter dividida a classe trabalhadora,
diminuindo potencialmente a possibilidade de que ela se unifique em torno ao
que lhe é comum enquanto classe - a exploração da sua mão-de-obra. É esta
consciência e a ação revolucionária sobre ela, justamente que lhe permitiria
romper com a sua dependência dos meios de produção sob o controle da
burguesia.
Não há capitalismo sem múltiplas formas de opressão. E não é possível
construir uma sociedade socialista sem decifrar e desconstruir cada uma
destas cargas opressivas, que pesam sobre as costas dos (as) trabalhadores
(as), negros (as), mulheres, homossexuais, favelados, não-alfabetizados,
dentre tantos outros.
Para nós, a defesa incondicional da mais ampla liberdade de expressão sexual
é parte da luta pela conquista de um verdadeiro socialismo. É parte de um
combate para construir um mundo onde os preconceitos e as discriminações
sejam varridos juntamente com a exploração dos homens e mulheres pela
burguesia.
Desde as primeiras paradas GLBT's no Brasil, há sete anos, a palavra de
ordem dos grupos organizados tem sido "visibilidade". Foi um movimento
importante que resultou na pressão sobre algumas câmaras legislativas para
que aprovassem leis em defesa dos homossexuais. No entanto, essa pressão não
chegou ao poder executivo, que teria condições e o dever de implementar
políticas públicas abrangentes que mudassem a forma de pensar da escola, da
família, da mídia e das demais instituições sociais que reproduzem, geração
após geração, a ideologia dominante de que a homossexualidade é um
comportamento antinatural que deve ser repelido, perseguido e extirpado, a
qualquer custo, do nosso meio. Pior, que os homossexuais e suas variantes
devem ter o mesmo destino. Isso é declarado todos os dias, direta e
subliminar-mente, pela grande mídia formadora de opiniões, que apresenta a
homossexualidade sob forma estereotipada para causar reações nos leitores e
telespectadores, que provoque riso, pena, espanto ou ódio, com o objetivo
único de aumentar tiragens e audiência.
A violência contra os homossexuais, portanto, é incentivada objetivamente, a
partir da postura da escola e da mídia sobre os quais deveriam atuar os
poderes públicos para impedir a reprodução da ideologia homofóbica.
A violência contra GLBT's expressa-se e realiza-se das mais variadas formas.
Desde a discriminação oficial nos hemocentros e a ausência de políticas
públicas contra a homofobia, passando pelos estereótipos caricatos
divulgados pela imprensa, até a agressão física por gangues neofascistas e
mesmo por familiares.
O PSTU luta pelo fim de qualquer forma de discriminação e preconceito contra
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em todas as instâncias
da vida social: locais de trabalho, estudo e moradia, instituições civis ou
militares, sindicatos e organizações partidárias. Neste sentido, o PSTU
lutará:
- Pela inserção, em nível constitucional, de leis contra a discriminação ou
penalização de qualquer pessoa devido à sua orientação sexual e que garantam
a plena igualdade de oportunidades.
- Pela eliminação de qualquer lei trabalhista que pratique ou incentive a
discriminação nos contratos de trabalho, nos regimentos internos e nas
normas que orientam a admissão e promoção de profissionais.
- Pela proibição de qualquer norma que restrinja o direito de livre escolha
de local de moradia.
- Pela extinção de normas ou regulamentos internos de qualquer instituição,
particularmente das Forças Armadas, que impeçam o livre ingresso de
homossexuais devido a sua orientação sexual.
O PSTU defende a extensão de todos os benefícios sociais concedidos aos
casais heterossexuais (contrato de união civil, previdência social, herança,
partilha de bens, extensão de seguros, férias conjuntas, adoção, etc), aos
casais de gays e lésbicas que vivam em igual situação (tempo de
relacionamento, etc). O PSTU defende também a aprovação da lei de "parceria
civil" e propõe a realização de um debate amplo com os grupos do movimento
GLBT para aperfeiçoá-la naquilo que for necessário, particularmente, no que
se refere às suas limitações e às restrições em relação ao direito de guarda
e adoção dos filhos (as quais o PSTU defende) - geralmente negada pelas
instituições judiciais quando se descobre que a pessoa que está requerendo a
adoção é homossexual.
O PSTU defende o direito de organização e expressão dos homossexuais e
combaterá todo e qualquer ataque que seja feito pelo governo, seus órgãos de
repressão e sustentação - delegacias, polícia militar, Forças Armadas,
Igreja e mídia burguesa. É necessário a criação de fóruns municipais,
estaduais e nacional de defesa dos direitos GLBT's, onde estes possam contar
com o apoio jurídico e político que for preciso. Esses fóruns devem ser
independentes dos poderes públicos e dos setores econômicos interessados em
explorar o que chamam de "grana cor-de-rosa".
O PSTU denunciará e exigirá a imediata punição de todo e qualquer caso de
violência praticada contra GLBT's, seja por parte de membros da família,
policiais, seguranças particulares ou gangues neonazistas.
O PSTU condena e denunciará a difusão de estereótipos anti-GLBT's nos meios
de comunicação e a constante prática, por parte da mídia, de vincular
homossexualidade à criminalidade.
O PSTU condena a política de agressão aberta de instituições religiosas,
como a Igreja Católica e a Igreja Universal, a GLBT's. Cada um deve ter seu
direito à liberdade de culto religioso preservado, mas a intolerância das
Igrejas em relação à homossexualidade deve ser denunciada e combatida,
especialmente a tentativa destas instituições de associar homossexualidade a
crimes de abuso sexual contra crianças e a doenças como a Aids.
Há muito já se sabe que no que se refere a Aids, não existem grupos de
risco. Entretanto, ao negar educação apropriada, o governo coloca em risco
inúmeros grupos sociais, como a juventude hetero e homossexual,
especialmente entre as grandes populações pobres da periferia que, não ao
não ser alertada apropriadamente na escola e em campanhas públicas, acaba
tornando-se um grupo muito mais vulnerável às Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST's). Esta política é simplesmente assassina e precisa ser
combatida duramente. Neste sentido, o PSTU defende:
- A manutenção incondicional da distribuição gratuita do coquetel de
medicamentos aos portadores de HIV.
- O desenvolvimento de campanha permanente que desvincule a doença da
orientação sexual dos portadores.
- A realização de campanhas de prevenção voltadas às especificidades da
mulher lésbica.
- A realização de campanhas amplas de educação e prevenção, na escola e em
campanhas públicas, direcionadas especialmente a adolescentes gays e
lésbicas, que, na sua maioria, não têm a oportunidade de debater o assunto.
- O fim da discriminação oficial nos hemocen-tros, que considera gays e
lésbicas como grupo de risco.
- Campanhas pelo fim da discriminação contra os portadores de HIV nos locais
de estudo, trabalho e moradia.
- Participação de organizações homossexuais nos programas de combate as
DST's na rede de saúde pública.
O PSTU defende a inclusão da disciplina "Educação Sexual" nos currículos
escolares, inclusive das universidades, e cursos orientados para a formação
de professores, profissionais de segurança privada e policiais militares e
civis. A proposta é incluir o debate sobre diversidade existente quanto à
orientação sexual (e gênero) e a necessidade de se respeitar a
homossexualidade como opção existente. Também defendemos a inclusão do tema
nos livros escolares.
São demandas do movimento GLBT em respeito à sua forma de organização:
- A formação de um fórum permanente de debate e decisão do movimento GLBT
brasileiro. A ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis),
que deveria ser esse espaço, é uma entidade que se encontra totalmente
burocratizada e controlada por grupos financiados diretamente por
Ministérios do Governo Federal.
- Que o movimento GLBT não dependa financeiramente dos governos contra os
quais luta em defesa de seus direitos e das empresas que objetivam a
exploração econômica do setor. Que o movimento GLBT crie formas de
autofinanciamento, unidade de luta e patrocínio junto aos seus aliados
naturais - os sindicatos de trabalhadores e demais organizações populares.
- Fortalecer os grupos organizados da periferia para que desenvolvam uma
política própria de luta, que responda às suas necessidades específicas, em
unidade com os grupos das regiões urbanas centrais, mas independentes
destes.
- Para além da visibilidade, necessária, é preciso: Uma atitude política por
parte do movimento GLBT, para que as Paradas voltem a ter o peso
reivindicatório, os quais têm sido perdido ao longo dos anos.
- Que, para além das paradas, os demais 364 dias do ano, sejam também dias
de mobilização, denúncia e luta por direitos. O PSTU condena a aliança do
PT, maior partido oriundo da classe trabalhadora no Brasil, com o PL,
partido de direita, ligado à Igreja Universal, que prega a cura de
homossexuais. Esta aliança levou o PT a apagar do seu programa eleitoral
qualquer menção à luta GLBT pelo reconhecimento dos seus direitos.