5. Uma proposta dos trabalhadores da cidade e do campo para enfrentar a crise: que os ricos paguem a conta!
Até hoje todas as saídas para enfrentar a crise têm sido a partir da mesma
lógica: como preservar os interesses das grandes empresas à custa dos
salários e empregos dos trabalhadores. A idéia central é atrair os grandes
investidores, como assegurar seus lucros, de tal maneira a que eles queiram
"seguir investindo". Com esta lógica, não nos admira como os programas
econômicos estejam tão parecidos. Sempre defendem a manutenção das relações
com o FMI, a estabilidade fiscal e, em essência, a continuidade do programa
econômico atual.
"Não existe nenhuma alternativa ao neoliberalismo", dizem os defensores do
status quo. "Não se pode romper com os grandes banqueiros internacionais, ou
o país deixará de receber os capitais de todo o mundo e será a barbárie".
Qualquer proposta de ruptura é encarada pela grande imprensa, pelos
políticos e ideólogos da burguesia como utópicas, irrealizáveis e
delirantes. Dizem em primeiro lugar que não há dinheiro para a concretização
dessas medidas.
Nas campanhas eleitorais, no entanto, para enganar as massas, defendem a
solução milagrosa de todos os problemas sociais sem dizer de onde vão tirar
o dinheiro para conseguir estas maravilhas.
Na verdade, é preciso optar com clareza. Manter o atual programa econômico,
mesmo com dezenas desses programas nanicos de reformas, significa reproduzir
a exclusão social, manter ou piorar a situação de miséria do povo. Para
mudar realmente a situação de nosso povo é preciso romper com o pagamento da
dívida externa, com o imperialismo. Sem isso não existe nenhuma maneira de
avançar.
É preciso buscar o dinheiro onde ele está. No bolso dos banqueiros
internacionais e nacionais, dos latifundiários, dos corruptos e dos grandes
capitalistas que por muitos anos ganharam com o esforço e a miséria do povo
brasileiro. Agora é hora deles pagarem pelo desemprego, pelos juros altos e
pelos preços exorbitantes.
O programa de governo de Lula faz claramente uma opção: a de que a solução
de todos os problemas sociais do país está no crescimento econômico. O
crescimento, dentro da economia capitalista, não assegura absolutamente
nada. O padrão de acumulação capitalista, imposto pelas grandes empresas
imperialistas (e que Lula não se dispõe a mudar), significa mais desemprego
e menores salários mesmo em períodos de crescimento. A experiência concreta
dos trabalhadores, tanto em períodos de crescimento como de crise, desmente
a proposta de governo de Lula.
Para mudar a situação social é preciso romper com o atual modelo. Para
conseguir recursos para os programas sociais é necessário tirar das grandes
empresas.
Por isso, apresentamos uma série de medidas que demonstram como um governo
dos trabalhadores, rompendo com o imperialismo, pode levantar os recursos,
não só para garantir condições dignas de vida e trabalho para a população,
mas também para impulsionar um verdadeiro crescimento econômico e cultural
do país.
A base deste programa foi discutida em uma Conferência Popular em novembro
do ano passado, que reuniu dirigentes do MST, Consulta Popular, Pastorais
Sociais, o PSTU e setores da esquerda petista. A grande tradução deste
programa é hoje a campanha do plebiscito contra a ALCA. Nesta conferência
foi discutido um programa de 14 pontos, que são os seguintes:
- Não integração do Brasil à ALCA;
- cessação do pagamento da dívida externa;
- rompimento com o FMI;
- cessação da utilização de grande parte do orçamento público para pagar a
dívida interna aos especuladores;
- revogação da legislação de blindagem, em especial da Lei de
Responsabilidade Fiscal;
- reestatização e recuperação das empresas estratégicas privatizadas;
- redução da jornada de trabalho, sem a redução dos salários;
- contra a flexibilização dos direitos trabalhistas e em defesa do aumento
de salários;
- a democratização dos meios de comunicação de massa;
- Reforma Agrária com definição do limite máximo de propriedade;
- demarcação, homologação e registro de todos os territórios indígenas no
país;
- recuperação de nossa cultura e dos valores sociais que construam uma
sociedade baseada na igualdade, solidariedade e justiça social.
Corretamente este programa parte da ruptura com a ALCA e com o FMI e do não
pagamento da dívida externa. Sem isso não existe nenhuma possibilidade de
resolução dos problemas sociais deste país.
A proposta de programa que queremos apresentar aqui parte destes 14 pontos
discutidos na Conferência, aos quais são agregados alguns outros, que
definem com clareza um perfil anticapitalista como a estatização dos bancos
e das grandes empresas. Vamos aos pontos: