Introdução
A gravidade da crise que atinge os trabalhadores no país torna
imprescindível que um programa de esquerda esteja presente no debate
eleitoral brasileiro. Só por isso já se justificaria o lançamento das
candidaturas do PSTU para as próximas eleições.
O governo FHC, responsável pela implemen-tação no Brasil dos planos
neoliberais (em continuidade a Collor), está preparando uma crise ainda
maior para o país, com a adesão a ALCA (Área de Livre Comércio das
Américas). Isto significará um retrocesso a uma situação de colônia do
imperialismo norte-americano, e um ataque ainda muito maior a situação já
lamentável dos trabalhadores da cidade e do campo. Além disso, o país está
mais exposto do que nunca a crise internacional em curso, e está caminhando
para uma explosão econômica, vença quem vença as eleições, em função da
combinação dívida externa - dívida interna.
Perante a destruição do país, do retrocesso brutal no nível de vida das
massas, é necessário apresentar uma alternativa socialista. Para enfrentar a
continuidade de FHC (ou alguma de suas variantes disfarçadas de oposição,
como Ciro Gomes e Garotinho) é preciso um programa claramente contraposto ao
aplicado hoje, um programa de esquerda.
O PT, no entanto, apoiou o último acordo de FHC com o FMI, e vai defender um
programa adaptado às exigências dos setores burgueses internacionais e
nacionais mais importantes, muito parecido ao dos partidos burgueses e ao de
FHC. Na verdade, está se preparando uma continuidade em essência da política
econômica (com pequenas diferenças no varejo) do país, vença quem vença as
eleições.
Os ativistas do movimento sindical, estudantil e popular que atuam na
campanha contra a ALCA têm o direito de desconfiar da candidatura de Lula,
que não se compromete a romper com a ALCA, caso seja eleito. Ao contrário,
Lula declarou que "não está contra a ALCA", já se comprometeu a "honrar
todos os compromissos feitos em relação à dívida externa", a manter os
acordos com o FMI. Este é o motivo pelo qual a direção do PT saiu da
campanha do plebiscito contra a ALCA, uma atitude gravíssima, exatamente no
momento em que podem chegar ao governo e definir a entrada ou não do país no
acordo da ALCA.
Os companheiros do MST podem verificar que Lula não apóia as ocupações dos
sem terra. Ao contrário, todas as vezes que pode, as critica abertamente,
retomando a mesma postura da burguesia de "fazer a reforma agrária dentro da
lei", ou seja, esperar da Justiça e dos governos a solução do problema
agrário. Isso nunca ocorreu e não vai ocorrer mesmo com um governo Lula,
porque a burguesia vai seguir controlando a Justiça e o Congresso. Tudo o
que avançou neste país em relação à Reforma Agrária foi pela ocupação de
terras do MST.
Os militantes do movimento sindical se chocaram com a aliança PT-PL, que
colocou um grande burguês, José de Alencar, como vice de Lula. Alencar
apoiou o golpe de 64, afirma que o MST é um mal para o país, defende
abertamente a ALCA. Em suas fábricas, os trabalhadores têm uma carga horária
de 12 horas diárias e o direito de sindicalização é negado.
Os lutadores de esquerda honestos questionam as prefeituras e governos de
Estado do PT, como o de Marta Suplicy, em São Paulo.
Todos aqueles que se identificam com os chamados setores oprimidos têm muito
com o que se preocupar com as posturas do PT. Negros e mulheres que já são
historicamente marginalizados e superexplorados em todos os setores da
sociedade poderão ser ainda mais afetados com a implementação da ALCA. Com
suas novas alianças, o PT tem retrocedido na defesa da luta contra a
opressão. Afinal, como é possível defender a parceria civil para gays e
lésbicas e a legalização do aborto, por exemplo, ao lado dos homofóbicos do
PL e da Universal do Reino de Deus? Como será possível lutar contra o
racismo juntamente com aqueles que, cotidianamente, demonizam a cultura
afro-brasileira?
A campanha eleitoral do PT vai ser quase idêntica a dos partidos burgueses,
tentando mostrar pequenas reformas de compensações sociais como os programas
bolsa escola, etc, como as soluções para o país. As alternativas de
centro-esquerda como o PT, que se propõem a administrar a crise do
capitalismo, já demonstraram sua falência com a derrubada de Fernando De la
Rúa na Argentina e as derrotas da social-democracia européia. O país
necessita de um programa claro de esquerda, socialista, de um programa de
ruptura com o capitalismo que resuma as reivindicações mais sentidas dos
trabalhadores e suas aspirações históricas.
É necessário construir uma alternativa de esquerda pra valer nas lutas
diretas dos trabalhadores e dos jovens, assim como nas eleições. Hoje começa
a se construir um movimento que está levando adiante a campanha contra a
ALCA (MST, Consulta Popular, Pastorais Operária e da Juventude, PSTU) que
pode ser uma alternativa para os ativistas do movimento operário, popular e
estudantil.
Nem a direção nem as principais correntes da esquerda petista estão
participando desta campanha. Esses setores estão empenhados em suas
eleições, participando apenas formalmente da campanha, adaptados à
institucionalidade burguesa.
Para nós, as ações diretas das massas é que vão mudar o país e não as
eleições. Participamos das eleições para utilizar este espaço limitado
apresentando um programa de esquerda para valer e ajudar a fortalecer este
movimento contra a ALCA. Colocamos nossa campanha a serviço das lutas dos
trabalhadores e da juventude, e chamamos a que se integrem a ela todos
aqueles ativistas que estão contra o programa de direita que o PT está
defendendo.