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Jairzinho fala da conquista do ouro no Pan-63

Folha Imagem
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática da Folha de S.Paulo

Jairzinho, o Furacão da Copa, é o único jogador da história a marcar gols em todos os jogos de uma Copa do Mundo. Mas muito antes da consagração no Mundial de 1970, no México, o ex-jogador já havia brilhado com a camisa da seleção nacional. Na entrevista que segue, feita por telefone, Jair Ventura Filho, nascido em 25 de dezembro de 1944 em Caxias (RJ), fala um pouco conquista da medalha de ouro no Pan de 1963, em São Paulo.

Clique aqui para ler a entrevista com Carlos Alberto Torres, que também fez parte da seleção brasileira que ganhou o Pan-63.

Folha: Jairzinho, sua estréia na seleção foi no Pan, certo?
Jairzinho: Comecei a jogar no Botafogo de Futebol e Regatas, na categoria juvenil, em 1961. Fui tricampeão no juvenil e campeão pan-americano. Foi a primeira oportunidade minha vestindo a camisa da seleção brasileira nesse Pan-Americano inesquecível, onde nós conseguimos a medalha de ouro. O jogo era a final contra o Uruguai, que ostentava o título.

No Botafogo eu joguei 17 anos, tenho diversos títulos: além de tricampeão juvenil, sou tricampeão também do Torneio Rio-São Paulo da época que foi de 64 a 66. Sou bicampeão carioca, tanto da Taça Guanabara como do Campeonato Carioca de 67 e 68. Tenho diversos títulos fora do Brasil, torneios tanto no México, como na Tchecoslováquia, como na Iugoslávia, como na Argentina, na Bolívia e outros países, isso tudo com o Botafogo e também tenho o título maior da minha carreira, que foi o tricampeonato mundial de 1970, no México, onde eu fui considerado, pela imprensa, o "Furacão da Copa" pela minha grande performance na seleção.

Sou o único jogador até hoje na história das Copas a ter feito gol em todos os jogos. Sou também pentacampeão mineiro com o Cruzeiro. Também ganhei a Libertadores da América em 76, com o próprio Cruzeiro, além do vice-campeão mundial nesse mesmo ano _derrota para o Bayern de Munique.

Folha: Voltando para o Pan: você lembra dos jogos, dos adversários?. Vocês ficaram concentrados quase um mês, isso não é uma tortura para um juvenil?
Jairzinho: Não, eu acho que, bom, a pessoa que pensa dessa forma não pode alcançar o seu objetivo, entendeu? Eu sou muito feliz de ter ficado um mês, eu ficaria até dois para ser campeão pan-americano outra vez, como eu fiquei três meses para ser campeão do mundo, entendeu?

A gente tem de entender qual é a infra-estrutura administrativa de cultura esportiva do homem brasileiro, entendeu? Principalmente, o garoto. Você tem que entender que o Brasil é um país tropical, o Brasil é um país de muita liberdade até excessiva no aspecto sexual, entendeu? Então, se você não segurar o garoto e der a ele o embasamento de conhecimento da responsabilidade dele, mesmo como atleta, da responsabilidade de conjunto, da responsabilidade de defender o nome do seu país, e deixá-lo avulsamente, evidentemente que ele vai ser corrompido pelo assédio maciço, que existe hoje e sempre existiu, das mulheres brasileiras. Até por motivo de elas serem em número maior, a carência de homem fica maior para elas, numa série de situações.

Folha: Então, você acha que é supercerto fazer a concentração?
Jairzinho: Supercerto, supercerto, eu sou treinador e quando eu pego também meu time eu concentro. Se eu puder concentrar mais uns dias, eu vou concentrar, porque além de ser treinador eu sou ex-jogador, eu conheço muito bem o comportamento do homem. O cara, quanto mais atleta ele é, ele muito mais, vamos dizer, excitado ele fica, se é assim que pode dizer.

Folha: E, na época, vocês conseguiam fugir? Por que?
Jairzinho: Não, o que é isso? É o que eu estou te falando. Nós ficamos no Morumbi. O Morumbi estava ainda em construção. Estavam começando a construir o estádio. Então, pelo que eu estou te falando, você já vê que isso não passava e nem passa na minha cabeça, porque era o Brasil, rapaz. Era o Brasil, eu estava vestindo pela primeira vez a camisa da seleção brasileira. É que vocês, que não jogam, vocês não têm noção do que seja isso, entendeu?

Folha: Durante o campeonato você lembra dos principais adversários? Dos jogos?
Jairzinho: Ah, demos de 16 ou 17 a 0 nos Estados Unidos (foi 10 a 0) e ganhamos bem, ganhamos de quatro na final dos uruguaios. O restante dos adversários, puxa, isso foi em 1963. Tem 40 anos.

Folha: Está certo. E da sua carreira, qual você diria que foi o momento mais emocionante?
Jairzinho: Na minha carreira, o principal momento foi em 1970, pô, inigualável. Eu sou um jogador que em um Campeonato do Mundo ganhou quatro títulos. Num só título, fiz quatro: eu fui considerado o "Furacão da Copa", como eu te falei. Eu sou o único jogador que fez gol em todos as partidas, como eu te falei. Eu fui considerado o melhor preparo físico, junto com o Brito _já são três. E, junto com meus companheiros, nós ganhamos definitivamente a Jules Rimet, pronto, quer mais? Quer mais título do que isso?

Folha: Está certo. E dos gols da Copa, qual você acha mais legal?
Jairzinho: Não, todos eles foram importantes na minha vida e muito importantes para o Brasil.

Cada gol que se faz é uma emoção a mais, entendeu? Fazer um gol em Copa do Mundo é justamente o caminho para a sua realização. Isso é que me tornou o que eu sou hoje: o "Furacão da Copa" pela minha grande performance e meus gols, que foram gols maravilhosos, para mim todos eles têm a mesma importância.

Folha: Hoje, como você está com o futebol?
Jairzinho: Eu sou treinador e também sou indicador de jogadores.

Folha: Depois que você terminou sua carreira como jogador, como treinador quais foram seus principais?
Jairzinho: Ah, eu trabalhei no próprio Botafogo, no Rio, na categoria juniores. Trabalhei na Venezuela, no primeiro time, que é a Portuguesa de Aquarigua, onde fui campeão venezuelano e classifique o time para a fase semifinal da Libertadores, sendo o primeiro clube venezuelano a passar da primeira fase. Fui também treinador na Bolívia no Jorge Wilstermann. Treinei o Londrina, treinei o Calamata, na Grécia, treinei na Arábia Saudita o Aueda e Hiderrach. Fui campeão com o São Cristovão, do Rio de Janeiro, da segunda divisão, e treinei também o Bonsucesso, segunda divisão, e o Mesquita, no ano passado.

Folha: EBom, você falou dos grandes momentos da sua carreira. E os momentos tristes, desagradáveis, como jogador ou como técnico?
Jairzinho: Como técnico, a gente sabe que é uma normalidade você ganhar e perder. Como é também como jogador. Só que o técnico, ele por ser a principal figura, de ser o comandante, ele recebe uma carga muito mais pesada, como a gente fala, uma cobrança maior, e nem sempre a gente consegue o objetivo, porque não depende só de você ter conhecimento tático, de você saber fazer um programa de treinamento, de fazer um cronograma de um próprio programa para você numa temporada executar todo seu planejamento. Se você não tem bons jogadores, se você não tem um jogador inteligente que entenda toda a sua filosofia e que também faça a diferença na hora dos jogos. Isso foi tudo o que o Jair fez. Você precisa ter todos esses aparatos para você justamente chegar ao sucesso, porque jogar todo mundo joga, agora, saber jogar é bem diferente. Programa de treinamento todo mundo faz. Fazer tática todo mundo faz. Fazer jogadas ensaiadas todo mundo faz, agora o saber jogar aqui faz a diferença é o jogador mesmo, entendeu?

Folha: Como jogador, você traz ainda alguma mágoa?
Jairzinho: Não, eu só lamento que a minha carreira foi interditada com violência por três vezes. Em 1966, o Oldair, que era lateral-esquerdo do Vasco, quebrou meu pé, o quarto ou quinto metatarsiano do pé esquerdo. Depois eu tive refratura, depois eu fui o primeiro jogador do mundo a fazer enxerto ósseo. Aí voltei, fui para a Copa do Mundo de 70 e tive aquela performance. Imagine se eu não tivesse, heim? Depois, em 71, também esfacelou um músculo da perna esquerda mesmo, eu fiquei quase dois anos sem jogar e eu quase fiquei inutilizado. Esses são os dois pontos mais tristes da minha carreira, que me interditou muito e quase não voltei a jogar.

Folha: Você ainda tem sequela e é por isso que você está fazendo fisioterapia ainda hoje?
Jairzinho: Não, não, não, essa é a sequela justamente dessa operação de 22 anos atrás _melhor dizendo, 32 anos atrás. Rompi outra vez o músculo e tive que fazer outra cirurgia e estou agora me recuperando.

Folha: Com o futebol, o que você ganhou do ponto de vista financeiro? Você ficou rico com o futebol?
Jairzinho: Com o futebol, eu ganhei tudo o que eu sonhei, eu realizei. Ser um grande jogador, ser campeão de todas as categorias possíveis, ser campeão em quase todos os times que joguei. Consegui tudo isso. E o maior ganho disso tudo é eu até hoje ser reconhecido nas ruas e viver com muita felicidade porque as pessoas só me amam, só passo para elas bons fluidos.

Hoje tenho a minha tranquilidade de viver sem nenhuma dificuldade. Eu tenho a minha residência, tenho as minhas atividades particulares também e estou muito feliz.

Sou casado já há 28 anos com a minha esposa Cristina. Meus filhos: a Janaína é a mais velha, é professora de jiu-jitsu, faixa preta, e o Jair está dentro também do futebol, está aí tentando um espaço.

E agradeça todo dia a Deus que você está vivo, que você pode olhar, pode andar, pode comer. Seja agradecido a Deus. Não peça nada. Agradeça. Essa é a minha mensagem.

E-mail: rlucena@folhasp.com.br

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