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moda / vintage

garota esperta

musa das areias revela gênese de momentos históricos

Nasci no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Lá acontecia uma coisa legal: em cada quarteirão era uma turma, uma tribo, um estilo. Nos anos 70, eu frequentava o Arpoador, bem garotona, com meus 14 anos, magérrima e alta. Era uma verdadeira rata de praia e vivia em volta dos surfistas.

Sempre andava sem grana. Adorava fazer meus biquínis. Como eu era meio hippie, montava peças em crochê -às vezes com pedacinhos de couro, outras com trancinhas. Depois a região virou o píer e apareceram os artistas e personalidades: Caetano (Veloso) e (Fernando) Gabeira, com as sungas estilo cueca, bem-cavadas. E todo mundo beijava na boca. Mais para a frente vieram os gays...

Um dia, a revista "Pop" me fotografou na praia e as coisas começaram a acontecer. Como não saía da areia, acabei fazendo vários trabalhos -e até capas- lá mesmo. A história de usar biquínis altos nasceu sem querer: eu não gostava da marca nas pernas dividindo o corpo. Até hoje gosto de jogar a alça da calcinha lá para cima, nunca gostei de nada me apertando.

Nos anos 80, deixei de ser a garotona da praia e veio a fase de top. Ganhava muitos bíquinis de marcas e me tornei amiga do Simão Azulay e do David, da Yes Brazil e da San Sebastian, que depois virou a Blue Man. Diversas vezes fui à loja dar palpites sobre as peças.

Já o topless aconteceu de uma vontade de desfilar sem marcas no corpo, já que às vezes rolava de usar uma peça mais cavada nos desfiles e eu achava feio -até porque as modelos eram mais bronzeadas do que as meninas de hoje. Todas acabaram fazendo: a Luma (de Oliveira) fazia em Niterói; já a Luiza (Brunet) e a Xuxa iam para outras praias, mas também praticavam o topless.

Sempre procurei me expressar pelo meu visual e não pelas tendências. O look dos meus cabelos revelava minhas mudanças e vontades. Pintava de preto. Na época de riponga, deixei o cabelo vermelho e com permanente; daí preto de novo. No auge dos desfiles e das fotos, a Betty Prado me levou a um salão que ela conhecia, e então passei a usar uns cortes esquisitos: o "pigmaleão", "pantera" e até um Chanel tipo Romeu... Daí, cansei. Comecei a fazer em casa mechas na parte da frente que ficavam cada vez mais claras, e nos desfiles eu usava puxado para trás, dando aquela sensação de dourado do sol.

Passei a cortar curto de repente, em barbearia mesmo, com topete e reto em cima. Um dia, após terminar com o meu namorado na época, o Lobão, decidi que em vez de me jogar da janela deveria cortar o cabelo novamente. Lá fui eu de máquina dois, quase carequinha. Ainda hoje é assim, me deixo levar pelas minhas vontades. E vou mudando...

monique evans

Monique Evans, aos 16 anos, com um surfista de Ipanema em foto para a capa da revista "Pop"
foto arquivo pessoal / depoimento dado a henriete mirrione

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