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moda / prêt-à-porter

tudo azul em nova york

estilistas querem de volta o direito de sonhar
Detonando uma cartela de cores de puro otimismo, Nova York deu a partida na temporada internacional de primavera-verão 2005. O símbolo máximo desse momento é o azul, espécie de cor oficial da moda de lá. Em clima de eleição presidencial, retomando a confiança do consumidor e menos aflita com o terrorismo, a cidade recebeu bem os fashionistas. Mais exposições, festas, badalação e, principalmente, mais gente nas lojas comprando, trouxeram um tom mais alegre. Calor, dias bonitos; Nova York volta a pulsar. E olha que estávamos mais uma vez no prêt-à-porter que coincide com 11 de setembro. Ainda assim, correu tudo bem.
A moda americana quer se fortalecer no mercado global, sobretudo com o declínio de Londres como pólo lançador (muitas grifes migraram de lá). Afinal, o varejo que tem a maior mídia de moda do mundo não pode deixar barato, americano é consumista por natureza.
Mais uma vez, a imprensa local se esforçou em valorizar as iniciativas dos estilistas para consolidar o tal estilo americano. Como? Hypando os medalhões, reforçando os clássicos, aqueles que pouco inovam, mas vão, ano a ano, atendendo a uma clientela wasp. Elogios rasgados para Carolina Herrera, Ralph Lauren, Oscar de la Renta, todos reforçando o principal denominador comum ao "american style": sua forte conexão com o sportswear. Ao citar textualmente Claire McCardell, a estilista que no pós-guerra definiu essa abordagem, trazendo do esporte a praticidade, o conforto e uma certa elegância despojada, Herrera marca pontos com crítica e compradores. A dupla Proenza Schouler, bem-nascida e apadrinhada por Anna Wintour, da "Vogue" América, é o novo nome nessa corrente.
A caretice americana é interpretada, nas passarelas, por looks bem femininos (como pede a moda do momento), mas mais orientados para o ladylike -ainda. Quase madames, as americanas deverão se vestir se não com requinte, com acabamento (os metalizados, em dourado, conferem riqueza e glamour).
Vem daí a vontade que perdura por silhuetas do passado, como os looks anos 50 que pipocaram ainda aqui e ali -mais suaves, menos decalcados. Da mesma forma, o jet-set dos anos 70 influencia mais marcadamente a atitude e os materiais, leves e esvoaçantes, sugerindo uma certa nonchalance no vestir. O downtown style acabou, decreta Suzy Menkes no "Herald Tribune", sobre o jeito jogado de se vestir do sul da ilha de Manhattan. Uma nova maneira de editar aparece na linha Marc, de Marc Jacobs. Inspirada na liberdade japonesa de misturar os looks, traz imagens novas e frescas.
Esta temporada é mesmo dos vestidos, mais soltos, mais fluidos, acompanhando o corpo sem exageros na sensualidade. Ainda que vistos em praticamente todos os comprimentos, o longo surge como principal trend.
Consolida-se uma cultura de acessórios, e a feminilidade aparece também aqui. Foram as americanas que lançaram para o planeta a tendência dos laços, funcionando ainda como cintinhos, graciosamente marcando a cintura.
O brasileiro Francisco Costa, à frente da Calvin Klein, conseguiu verdadeira unanimidade como melhor desfile da estação. Inspirado no escultor Constantin Brancusi (1876-1957), ele estabeleceu um vocabulário moderno, em que se exercitou tanto nos neutros que fizeram a fama de Calvin Klein quanto numa controlada explosão de cores nos incríveis vestidos de jérsei do final. Ali, Francisco Costa provou exemplar domínio técnico. Como se ele soubesse, a cada momento, para onde iria se mover esse difícil material, obtendo caimento perfeito e movimento harmonioso -reforçado pela música e iluminação excepcionais do desfile. O vestido longo final, azul e verde, em Natalia Vodianova, parecia uma visão, uma onda. A moda americana quer se dar ao luxo de sonhar.
erika palomino, enviada especial
fotos ap / AFP / Reuters
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