Folha de S.Paulo Moda
* número 16 * ano 4 * sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
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moda / mercado

O país do jeanswear

O Brasil é vice-campeão na produção de denim e o segundo maior mercado consumidor de jeans do mundo



Área de produção da fábrica Scovy, no Paraná

O jeanswear é um dos setores mais ativos do mercado brasileiro e, das indústrias têxteis ao grande varejo, do atacado às exportações, o segmento está em ebulição.

De acordo com os dados oficiais da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Brasil é o segundo maior produtor de denim do mundo, perdendo apenas para a China. Denim é o tecido pesado de algodão cru ou com fios de urdume tintos em índigo e fios de trama brancos usado para produção de jeans. Atualmente, a produção mensal brasileira de denim é de 45 milhões de metros, dos quais 10 milhões são exportados.

Segundo a Abit, é impossível mensurar o total de produtos jeans feitos no país, pois os itens são muito diversificados -vestidos, camisas, saias, calças, jaquetas etc.. As empresas também não têm dados precisos. Contudo, a Abit estima que foram fabricadas 204.207.000 calças jeans no país em 2004. O maior pólo de produção de todo o segmento é o Estado de São Paulo. Os estados de Pernambuco (Toritama), Ceará (Fortaleza e municípios próximos da capital, como Horizontina), Goiás (Goiânia) e Paraná (Maringá e Londrina) são outros pólos industriais de destaque. Algumas empresas produtoras se especializaram na prestação de serviços de terceirização ou sistema de Private Label, desenvolvendo produtos próprios com etiquetas de clientes renomados.

A Scovy é um desses casos. Com um maquinário de ponta, de origem alemã, inclusive para produzir peças especiais que levam até oito horas de produção em máquina, ela atende clientes como Miss Sixty, Energy, Triton, Wrangler e Lee, possui uma fábrica em Sorocaba para o desenvolvimento e pilotagem de peças, além de mais seis unidades, em Siqueira Campos, no Paraná. "Empregamos mais de 500 pessoas e produzimos 100 mil calças por mês para o mercado interno. Em 2006, com a inauguração de mais uma unidade, aumentaremos essa produção para 180 mil peças", conta Dimas Diógenes Hoehne, proprietário da Scovy.

Pesquisa encomendada pela sede da Calvin Klein em Nova York apontou que o Brasil é o segundo maior mercado consumidor de jeans do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A grife americana aportou no Brasil em parceria com o grupo BR Labels, holding que controla a operação das marcas VR Menswear, Mandi e VR Kids.

Quando o assunto é o mercado externo, além de o país ser um grande exportador de commodities (no caso, peças mais básicas), o jeanswear de ponta também faz sucesso, sendo reconhecido pelo estilo. "Atualmente, os produtos brasileiros diferenciados têm feito um grande sucesso no exterior porque apresentam qualidade, design e um conjunto de tratamentos e beneficiamento que vão além das customizações e lavagens, que se equiparam às italianas. Há uma renovação permanente da criatividade das peças jeans", afirma Yeda Amaral, consultora especializada em jeanswear para o segmento profissional. Grifes como Ellus, Equatore, Carmim, Colcci, Forum, Opera Rock e Vide Bula fazem um trabalho relevante no exterior. Outras, como a Cavalera, estão começando.

Desde 1983, a Ellus está presente no Chile, por meio de franquias e licenciamentos, com 150 pontos-de-venda e quatro lojas monomarcas. Em 1999, a empresa iniciou um processo de exportação que se intensificou em 2005. "Atuamos na França, Itália, Bélgica, Rússia, Portugal, Japão, Hong Kong, Coréia, México e Angola. Nos Estados Unidos e na Europa, realizamos vendas estratégicas a fim de penetrarmos em outros mercados. Em 2006, vamos aportar na Argentina, Uruguai, Paraguai, Canadá, Dinamarca, Finlândia, Suíça, Suécia, Emirados Árabes, Inglaterra e Arábia Saudita. Nossa meta é vender 25% da produção total, sempre levando peças diferenciadas e tops", conta Alexandre Frota, diretor de marketing internacional da Ellus.

Levi Strauss inventou a calça jeans há mais de 100 anos para ser usada como roupa de trabalho. Nos anos 50 e 60, a peça virou sinônima de rebeldia, com James Dean e Marlon Brando difundindo a imagem da juventude transviada por meio do cinema. Nos anos 70 e 80, ganhou ares pop, glam e rock e, nos anos 90, com a reformulação de grandes maisons, as passarelas do mundo. Hoje, mais democrática, a peça é um verdadeiro coringa no guarda-roupa e, nos últimos anos, ganhou novo fôlego, com a febre mundial do jeans premium.

Muitas marcas clamam para si o posto de pioneira no segmento. É difícil precisar a sua origem. Alguns consultores apontam a italiana Diesel como precursora, outros apostam que o segmento premium foi impulsionado por pequenas, exclusivas e diferenciadas marcas californianas, como Seven, True Religian, Citizens of Humanity, Joe’s e Paper Denin & Cloth e a holandesa Blue Blood.

Para uma peça jeans ser considerada premium, ela precisa seguir três mandamentos: ser produzida com tecidos de qualidade, como os italianos e os japoneses, considerados os melhores do mundo, ter lavagens diferenciadas e pos- suir um caimento e uma modelagem perfeita, claro, sem esquecer o fator exclusividade. "Quanto menos peças forem produzidas de cada item, mais desejado e de alto custo é o produto", explica André Piedade, um dos quatro sócios da Jeans Hall, loja especializada em jeans premium, em São Paulo.

Essas peças, que prezam a excelência de qualidade e carregam um forte apelo de glamour e de status custam em média US$ 300 lá fora e até R$ 2.500 no Brasil. "Hoje, no mundo, os grandes mercados de consumo do jeans premium são os EUA, o Japão e a Alemanha, e, apesar de o mercado premium no Brasil ainda ser pequeno, sinaliza com um grande potencial de crescimento", afirma o empresário.

A italiana Diesel chegou ao Brasil há quatro anos, e a estratégia para conquistar o mercado interno foi investir nas peças ultradiferenciadas. Precursora, a marca aposta agora na linha Denin Gallery. "Vendemos peças premium desde os anos 70. Agora, passamos a vender um produto que é o ‘premium do premium’, peças de R$ 2 mil, numeradas, com apenas 12 exemplares para muheres e 12 para homens", diz Esber Hajli, que trouxe a marca para o país.

No mercado nacional, a Hotel Denin, de Danilo Guimarães, reivindica o título de primeira marca genuinamente premium do Brasil. As peças da HD podem ser encontradas apenas na Daslu e custam, em média, R$ 500. Outras marcas do mercado também começam a lutar pelo título de premium, enquanto algumas afirmam que já estão inseridas no segmento há muito tempo. "A Zoomp foi precursora de jeans nacional e principalmente do conceito premium há algumas décadas, muito antes de se utilizar o termo premium", afirma Renato Kherlakian, proprietário da grife. Para Frota, da Ellus, a empresa de 30 anos "já nasceu fazendo premium, antes de todo mundo e sem esse alarde todo".

No meio desta discussão, quem ganha é o consumidor.

por Henriete Mirrione
fotos Nuno Papp / Karime Xavier

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