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O novo clássico italiano
Em meio à ameaça da recessão internacional, marcas firmam excelência do made in Italy
DA ENVIADA ESPECIAL A MILÃO
Tentando preservar seu espírito de elegância e atrair novas consumidoras, os pilares do prêt-à-porter exercitam-se com
parcimônia dentro do território das tendências. Com discretos arroubos de criação, mas muita roupa de qualidade, esta
temporada de outono-inverno 2001/2002
viu a consolidação do made-in-Italy, embasado por saudáveis números de vendas
em todo o mundo.
Grandes marcas como Max Mara (e sua
segunda linha, a Sport Max), Versace e Versus, Dolce & Gabbana e D&G visam garantir o interesse do mundo pela moda italiana. Dos três grupos, a Dolce & Gabbana foi
a que menos mudou -no que fez muito
bem. Para que mexer em time que está ganhando? A estética está menos rebuscada e
menos extravagante; o barroco country da
outra coleção manteve a silhueta clássica da
dupla de estilistas, dando lugar a um hippismo boêmio, com muitas pérolas, pedrarias, peles e acessórios de luxo. Está vendendo feito água e assim deve continuar.
Versace, por sua vez, talvez não tenha se
saído tão bem, principalmente em sua tradicional seara de vestidos de noite. Por outro lado, a estilista Donatella Versace conseguiu realizar a transição de um prêt-à-porter de bibelô em direção a uma imagem
de mulher mais "inteligente" e executiva
para o dia, mais "working woman" mesmo.
Para um território dominado por louras-com-bronzeamento-artificial, esse reposicionamento significa muita coisa.
Quem quer mudar de imagem também é
a Jil Sander, agora sob nova direção. O diretor criativo Milan Vukmirovic, ex-comprador da loja fashion francesa Colette, assumiu o lugar da estilista que dá nome à casa e
começa um processo para rejuvenescer a
imagem da marca e atingir jovens e endinheirados fashionistas. Economia (formal)
é a palavra de ordem, com rigor russo e
perfume vitoriano. Se o resultado, pós-minimalista (em preto, azul, vinho e branco),
ainda não agradou de todo aos editores de
moda, essa evolução se constitui num interessante modus operandi, objeto de observação de qualquer fashionista.
Verdadeiro ícone do estilo italiano, Giorgio Armani põe mais uma pedra em seu
castelo e acerta nas duas coleções -na linha principal e na segunda marca, a Emporio Armani. Trabalhando minuciosamente
sobre o detalhe e sobre os cortes que domina tão bem, Armani desta vez brinca de balé, em silhuetas que lembram as dançarinas
de Degas e recursos de costura e proporção
dignos de um mestre. Os mantôs e casacos
de cashmere dublado têm entradas nos
ombros que enriquecem a forma e ao mesmo tempo emprestam fluidez. Nesta estação, Armani marca presença no campo dos
acessórios, nos sapatos tipo ballet e microbolsas. O mesmo sucesso e espírito de renovação apareceu na presença da sobrinha
do estilista, Roberta, nos aplausos finais de
passarela (fato inédito), chave do corrente
frescor juvenil da linha.
Com uso das melhores matérias-primas
do mundo e acabamento primoroso, de fato a indústria italiana de peças em couro
atinge novos patamares. Tanto é que grifes
de acessórios avançam para o vestuário, seguindo o bem-sucedido caminho de Prada,
Gucci e Fendi. Esta é a temporada que
aponta o crescimento da suíça Bally, que
tem à frente o designer americano Scott Fellows. A idéia é atender a uma indústria de
roupa de qualidade sem extravagâncias visuais, com proporções corretas. Agradou.
Já a Pucci tentou retomar a Puccimania
dos anos 60, mas só se salvaram alguns
looks de mantôs sobre mínis, em estampas
caleidoscópio. Não é tão fácil, mesmo em
tempo de revivalismo de tendências.
No meio de tanta seriedade e atenção a
um novo mercado americano, mais contido, quem se destaca é Roberto Cavalli. Desta vez suas mulheres sexy encontram o fundamento neve, em delicioso exercício fashion. Foi o que sobrou da extravagância do
luxo italiano.
(ERIKA PALOMINO)
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