da Livraria da Folha
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Menina desperta de sono profundo pensando ser uma estátua |
"Uma abelha, carregada de néctar,
bateu na Janela e disse:
'A Verdade é Amarga e a Mentira é Doce,
mas a Verdade é melhor para você'.
'Tudo isso é muito bonito', disse uma Mosca,
presa do lado de dentro,
'mas, deste lado do vidro, Verdade e Mentira são a mesma coisa".
Esta é a epígrafe que abre "O Tapete Mentiroso", de David Lucas, lançamento da editora WMF Martins, livro que narra a história de Fé, uma garotinha que desperta de um sono profundo pensando ser uma estátua.
Sentada à frente de uma janela, em um grande cômodo, ela só tem por companhia uma voz, que ela não sabe ao certo se é um tigre, uma imitação de tigre ou um tapete mágico.
Fé começa a se questionar: será que é mesmo uma estátua ou foi misteriosamente encantada e poderá voltar à vida?
O tigre (ou imitação de tigre ou tapete mágico) conta à garotinha várias versões da verdade, a partir de acontecimentos ora engraçados ora estranhos. Como ela saberá qual a versão real da verdade?
A seguir, leia um trecho do primeiro capítulo, a passagem em que Fé desperta:
*
Fé ficara sentada ali muitos séculos, olhando pela Janela,
admirando o céu e as árvores enormes, sem nunca dizer uma palavra.
Mas naquela tarde, quando a luz do sol passou por seu rosto,
havia uma centelha de reflexão em seus olhos -
uma minúscula faísca, um pequeno pensamento que levou a meditações maiores.
Ela começou a perguntar-se onde estava.
E há quanto tempo estava sentada ali.
"Meu Deus", ela disse. "Tenho a sensação de que estive adormecida o tempo todo."
"Mas você esteve", disse uma voz, baixa, macia e muito próxima.
Ela quis se virar.
Mas não conseguia se mexer.
"Não sei o que está acontecendo comigo hoje", ela disse, sussurrando.
Sentia-se como se fosse feita de pedra.
"Finalmente você falou", disse a voz. "É um dia feliz!"
"Quem está aí?", perguntou Fé. "Quem é você?"
"Sou um tapete", respondeu a voz. "Aqui embaixo, não muito longe. Você consegue me ver com o canto do olho? Uma parte de mim, pelo menos?"
Fé conseguiu enxergar, bem com o cantinho do olho, uma forma grande e listrada no chão.
"Um tapete?", ela disse.
"Um tapete", disse o Tapete, "que está aqui para dar um pouco de calor e vida
para este cômodo, que às vezes pode parecer tão sombrio.
Gosto de imaginar que sou bonito e durável, mas não me iludo: sou apenas um tapete."
Fé mal o escutava.
"Mas o que estou fazendo aqui?", ela perguntou.
"Fazendo?", disse o Tapete.
E é claro que ela não podia fazer nada.
Ela quis esfregar os olhos.
Quis esticar os pés e dar pontapés.
Mas não adiantou.
Ela não conseguia nem piscar.
"Você é uma estátua", disse o Tapete.
"Não sabia?"
Ela não sabia.
"Preciso me levantar!", ela disse.
Mas seu corpo não se movia.
"Imagino que isso tudo deve ser meio
perturbador", disse o Tapete.
E ele começou a explicar, com a maior paciência do mundo,
que ela era feita do mais fino mármore,
e até entrou em detalhes sobre violentos processos geológicos
e sobre as variedades de rochas metamórficas,
antes de dizer que ela era uma estátua excepcionalmente bonita.
"De fato, você é bem realista", ele disse, animado.
"Bem acabada, com pés e mãos completos
e uma expressão encantadora e inocente.
Você poderia ter sido uma urna, ou um pilar, ou um degrau.
Você tem muita sorte: mora numa casa agradável, com uma vista linda,
e sempre foi bem cuidada.
Sabe, algumas estátuas lascam ou quebram,
outras ficam cobertas de musgo e hera."
"Mas eu sou uma estátua de quê ?", perguntou Fé.
"De menina", disse o Tapete. "De uma menina com um livro no colo
e olhando para o céu.
Seu nome é Fé. F É."
"Mas achei que eu fosse real ", ela disse, com voz trêmula,
"achei que eu estivesse aqui há pouco tempo,
que só tivesse sentado para olhar um livro."
"Claro", disse o Tapete. "Por que você não haveria de imaginar que é real?
Você é espantosamente natural. O Quadro também tem esse problema.
Ele imagina ser um rebanho de carneiros. Eu o ouvi balir."
"Então estou imobilizada aqui para sempre", ela disse, "só como enfeite?"
O Tapete garantiu que ela era muito mais do que isso:
ela era uma grande obra de arte,
e continuou a contar com um pouco mais de detalhes
a história das artes plásticas.
*
"Tapete Mentiroso"
Autor: David Lucas
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 80
Quanto: R$ 38