Livraria da Folha

 
14/05/2010 - 18h47

Em livro infantojuvenil, garotinha descobre que a verdade tem várias versões

da Livraria da Folha

Divulgação
Uma garotinha desperta de sono profundo pensando ser uma estátua
Menina desperta de sono profundo pensando ser uma estátua

"Uma abelha, carregada de néctar,
bateu na Janela e disse:
'A Verdade é Amarga e a Mentira é Doce,
mas a Verdade é melhor para você'.

'Tudo isso é muito bonito', disse uma Mosca,
presa do lado de dentro,
'mas, deste lado do vidro, Verdade e Mentira são a mesma coisa".

Esta é a epígrafe que abre "O Tapete Mentiroso", de David Lucas, lançamento da editora WMF Martins, livro que narra a história de Fé, uma garotinha que desperta de um sono profundo pensando ser uma estátua.

Sentada à frente de uma janela, em um grande cômodo, ela só tem por companhia uma voz, que ela não sabe ao certo se é um tigre, uma imitação de tigre ou um tapete mágico.

Fé começa a se questionar: será que é mesmo uma estátua ou foi misteriosamente encantada e poderá voltar à vida?

O tigre (ou imitação de tigre ou tapete mágico) conta à garotinha várias versões da verdade, a partir de acontecimentos ora engraçados ora estranhos. Como ela saberá qual a versão real da verdade?

A seguir, leia um trecho do primeiro capítulo, a passagem em que Fé desperta:

*

Fé ficara sentada ali muitos séculos, olhando pela Janela,
admirando o céu e as árvores enormes, sem nunca dizer uma palavra.

Mas naquela tarde, quando a luz do sol passou por seu rosto,
havia uma centelha de reflexão em seus olhos -
uma minúscula faísca, um pequeno pensamento que levou a meditações maiores.
Ela começou a perguntar-se onde estava.
E há quanto tempo estava sentada ali.

"Meu Deus", ela disse. "Tenho a sensação de que estive adormecida o tempo todo."
"Mas você esteve", disse uma voz, baixa, macia e muito próxima.
Ela quis se virar.
Mas não conseguia se mexer.
"Não sei o que está acontecendo comigo hoje", ela disse, sussurrando.
Sentia-se como se fosse feita de pedra.
"Finalmente você falou", disse a voz. "É um dia feliz!"
"Quem está aí?", perguntou Fé. "Quem é você?"
"Sou um tapete", respondeu a voz. "Aqui embaixo, não muito longe. Você consegue me ver com o canto do olho? Uma parte de mim, pelo menos?"
Fé conseguiu enxergar, bem com o cantinho do olho, uma forma grande e listrada no chão.
"Um tapete?", ela disse.

"Um tapete", disse o Tapete, "que está aqui para dar um pouco de calor e vida
para este cômodo, que às vezes pode parecer tão sombrio.
Gosto de imaginar que sou bonito e durável, mas não me iludo: sou apenas um tapete."
Fé mal o escutava.
"Mas o que estou fazendo aqui?", ela perguntou.
"Fazendo?", disse o Tapete.
E é claro que ela não podia fazer nada.
Ela quis esfregar os olhos.
Quis esticar os pés e dar pontapés.
Mas não adiantou.
Ela não conseguia nem piscar.
"Você é uma estátua", disse o Tapete.
"Não sabia?"
Ela não sabia.
"Preciso me levantar!", ela disse.
Mas seu corpo não se movia.
"Imagino que isso tudo deve ser meio
perturbador", disse o Tapete.

E ele começou a explicar, com a maior paciência do mundo,
que ela era feita do mais fino mármore,
e até entrou em detalhes sobre violentos processos geológicos
e sobre as variedades de rochas metamórficas,
antes de dizer que ela era uma estátua excepcionalmente bonita.
"De fato, você é bem realista", ele disse, animado.
"Bem acabada, com pés e mãos completos
e uma expressão encantadora e inocente.
Você poderia ter sido uma urna, ou um pilar, ou um degrau.
Você tem muita sorte: mora numa casa agradável, com uma vista linda,
e sempre foi bem cuidada.
Sabe, algumas estátuas lascam ou quebram,
outras ficam cobertas de musgo e hera."
"Mas eu sou uma estátua de quê ?", perguntou Fé.

"De menina", disse o Tapete. "De uma menina com um livro no colo
e olhando para o céu.
Seu nome é Fé. F É."
"Mas achei que eu fosse real ", ela disse, com voz trêmula,
"achei que eu estivesse aqui há pouco tempo,
que só tivesse sentado para olhar um livro."
"Claro", disse o Tapete. "Por que você não haveria de imaginar que é real?
Você é espantosamente natural. O Quadro também tem esse problema.
Ele imagina ser um rebanho de carneiros. Eu o ouvi balir."
"Então estou imobilizada aqui para sempre", ela disse, "só como enfeite?"
O Tapete garantiu que ela era muito mais do que isso:
ela era uma grande obra de arte,
e continuou a contar com um pouco mais de detalhes
a história das artes plásticas.

*

"Tapete Mentiroso"
Autor: David Lucas
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 80
Quanto: R$ 38

 
Voltar ao topo da página