Folha Online 5 Sentidos
5 sentidos
30/04/2003

Toque que salva

Hospital das Clínicas usa técnica de estimulação tátil para acelerar o desenvolvimento do sistema imunológico de bebês prematuros

FERNANDO SANTOMAURO E
MÁRVIO DOS ANJOS

DA EQUIPE DE TRAINEES

Patricia Santos/ Folha Imagem
Bebê prematuro recebe toques previstos na técnica do Tac-Tic, adotada com sucesso pelo HC
Um dos sentidos menos valorizados, o tato virou um poderoso instrumento na recuperação de bebês prematuros em algumas UTIs (Unidade de Tratamento Intensivo) de hospitais brasileiros.

A técnica Tac-Tic (sigla em inglês para "tocando e acariciando-cuidando com carinho") estimula o desenvolvimento do sistema imunológico do prematuro com uma série de 22 toques feitos da cabeça aos pés do bebê.

O método não age nos músculos, como massagem, mas sobre as terminações nervosas da pele, que aumentam a produção de betaendorfina, um anestésico natural produzido pelo organismo, reduzindo as dores e o estresse causado pelo nascimento prematuro.

Outras consequências são o aumento da taxa de imunoglobulina no sangue (substância responsável pela defesa do organismo) e a estabilização da pressão cardíaca.

O tratamento acelera a retirada da sonda gástrica que alimenta o bebê e reduz o tempo de incubadora. No berçário, ele tem condições de receber o aleitamento materno e alcançar o peso ideal.

"Há uma queda de no mínimo cinco dias na hospitalização da criança", diz Edi Toma, enfermeira-chefe do berçário do HC. Caem também os custos, já que o hospital gasta R$ 1.000 diários por bebê. A capacidade do berçário é de 63 recém-nascidos.

O Tac-Tic é aplicado no Hospital das Clínicas desde 1996 por seis especialistas treinadas durante dois anos pela criadora da técnica, a brasileira Elvidina Adamson-Macedo, especialista em psicologia sensorial da Universidade de Wolverhampton, Inglaterra e uma das primeiras a combater a idéia de que o prematuro deveria permanecer sem contato.

Apesar de reconhecida pelo Ministério da Saúde, a prática não é difundida porque os profissionais dependem de treinamento rigoroso e autorização da pesquisadora brasileira que criou a técnica. As terapeutas são autorizadas a ensinar alguns dos princípios para as mães, para que continuem mantendo esses contatos com o filho.

No Brasil, além do HC, o método da psicóloga também é aplicado no Hospital da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, e na Universidade Federal do Maranhão, em São Luís.

Segundo a chefe de pediatria do HC, Clea Rodrigues Leone, um tratamento similar não produz os mesmos resultados em adultos, cujo sistema imunológico já está completamente formado.

Anterior | Próximo | Índice

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).