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Educação
24/06/2005

Íntegra de entrevista: Carlos Ramiro de Castro

É diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) há três anos e acaba de ser reeleito para nova gestão. Leciona Biologia na rede pública há 35 anos. Tem 56 anos.

Maiores problemas da escola pública no estado

A primeira questão é a desvalorização do profissional da educação, em relação ao seu salário, a um plano de carreiras que não atende às inspirações dos professores, à falta de uma capacitação permanente para sua atualização, especialização e aperfeiçoamento.

A segunda questão é as condições de trabalho. Estamos trabalhando em salas superlotadas, o que não é o ideal. Trabalhamos com 40, 45, quando ideal seria trabalhar com até 25 alunos.

A outra questão é a matriz curricular. A carga horária da matriz é pequena. Há necessidade de aumentá-la, pelo menos voltarmos ao que era em 1997, com 6 horas no diurno e 5 no noturno. Não é o ideal, que seria por tempo integral. Era para termos pelo menos uma carga horária semanal de 30 horas, tanto no ensino fundamental como no médio no diurno, e 25 no noturno.

A nossa escola não atende às demandas reais da sociedade. Não só na formação das crianças no conteúdo profissional, mas principalmente para um pleno desenvolvimento da cidadania. Isso é o papel de uma escola pública. E essa escola não está atendendo à esta demanda da sociedade por falta de força das condições subjetivas.

Governo

O único problema da educação em relação ao governo é a falta de vontade política dos governantes priorizando a educação. Isso não acontece nesse estado do país há muito tempo. É falta de investimento. Como se resolve o problema de uma educação básica universalizada do ensino infantil ao médio com qualidade sem investimentos? A educação é cara.

Os investimentos hoje são muito pequenos. O estado de São Paulo, por exemplo, investe em média 3,5% do seu PIB. O Brasil investe 4,7%, isso dado do último censo. O recomendado pelas orientações internacionais, pela Unesco, é de 10 a 11% para países em desenvolvimento. O ideal seria isso, mas a curto prazo, para melhorar a qualidade de ensino, passarmos do 4,7% para pelo menos 7%. A médio prazo, chegarmos aos 10%. Aí resolveríamos objetivamente todas essas questões.

Escola pública hoje X antes

Antes a escola pública não era mais valorizada. Ela era de qualidade, mas era para poucos. Houve uma democratização e expansão da rede não acompanhados de investimentos necessários. A nossa escola nas décadas de 50 e 60 era extremamente elitista, para poucos. Nós queremos a universalização de todo o ensino básico.

As condições de trabalho têm piorado. A desvalorização do professor idem. A infra-estrutura não é adequada. Para avaliar a qualidade temos que avaliar esses aspectos. Então a qualidade de ensino é muito ruim. As políticas educacionais no Brasil são muito ruins. Nas avaliações internacionais o desempenho do Brasil é muito ruim. Em uma avaliação feita pela Unesco no ano passado em relação ao ensino de matemática, ciências e interpretação de leitura, de 48 países avaliados, o Brasil ficou em 47º, na frente do Peru. O Estado de São Paulo também em relação aos outros estados, os índices educacionais apresentados nas avaliações feitas, fica bem atrás de estados mais pobres que o nosso. E o estado tem um PIB invejável.

Soluções

Há necessidade do aumento do investimento. Inclusive nós estamos fazendo junto com a Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação uma campanha que já praticamente tomou mundo todo para conversão da dívida externa em recurso para a educação.

Falta de professores

Se o professor tiveras condições de ensino adequadas, uma jornada não tão estafante como é, aliada ao baixo salário que o obriga a fazer jornada dupla e tripla, nós resolveríamos tranqüilamente o problema de faltas.O professor sempre foi considerado um dos profissionais mais aceitos pela sociedade. Mas ele precisa ter condições de trabalho, inclusive de um processo de formação permanente para sua atualização, seu aperfeiçoamento e sua especialização. Fizemos uma pesquisa no ano passado em que 50% dos nossos professores estão com problemas relacionados à stress e estafa. Professor não falta porque ele quer, para se divertir. Ele falta por problemas principalmente de saúde.
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