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Novo em Folha 42ª turma
09/11/2007
Reprodução de serigrafia de Manabu Mabe cedida por Yugo Mabe. A serigrafia foi produzida a partir da obra original, uma pintura sobre madeira
Reprodução de serigrafia de Manabu Mabe cedida por Yugo Mabe. A serigrafia foi produzida a partir da obra original, uma pintura sobre madeira

Japonesa do Brooklin

MARI HIRATA

Só fui descobrir que era japonesa dentro de um metrô em Paris quando tinha 20 anos!

Estava eu no metrô e entrou um grupo de brasileiros falando alto. Sentaram na minha frente. Eu sorri, cúmplice. Eles me olharam como se eu fosse louca _aquela japonesa estava sorrindo para quem? E ficaram cochichando entre eles.

Fiquei chocada! Descobri que não estava na cara que eu era brasileira!

Logo, Liberdade era um bairro longínquo, aonde eu ia raramente.

Era exótico como qualquer outro bairro que não fosse o meu _o Brooklin Paulista.

Nem sei se o Brooklin tinha muitos descendentes de japoneses, mas na minha classe eu era a única, e a escola tinha a média de qualquer escola da capital, um ou dois por classe.

E, como qualquer outra escola, tinha descendente de tudo. Minha melhor amiga era descendente de espanhol e nunca esqueci o gaspacho que comia na casa dela. Ela trazia de lanche aquele pão esfregado com tomate e azeite, bem catalão, lanche tão esquisito quanto o meu pão com omelete.

Não fui estudar em escola japonesa e nem frequentava descendentes de japoneses. Logo, chegar ao Japão não foi um encontro das minhas raízes. Foi como quando cheguei na França: um país novo a descobrir.

Como minha cara ajudava, nunca tive problemas de adaptação aqui no Japão. Não sou de fazer feijoada aos sábados nem sou fã de samba, mas, alguns dias atrás, derramei minha lagrimazinha assistindo 'O Céu de Suely'.

Hoje, nas minhas idas ao Brasil, vou muito mais ao bairro da Liberdade. Lá encontro praticamente tudo que há no meu supermercado de Tóquio. As frutas, como o dekopon (espécie de tangerina), além de serem deliciosos, custam um terço do preco daqui; os nabinhos kabu ou os cogumelos shiitakes têmm mais sabor.

Logo, não é só pelos importados que vou às compras na Liberdade, mas pela qualidade e preço dos produtos de origem brasileira. Se antes era o bairro familiar e saudosista para os descendentes de japoneses, hoje virou um bairro da moda e cheio de novidades. Desde o último modelo de panela de arroz até o picolé asiático artificial!

Mari Hirata é chef na cidade de Tóquio e colunista da Revista da Folha

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