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Novo em Folha 40ª turma
14/02/2006

Município pacífico nasceu de um conflito

DA EQUIPE DE TREINAMENTO

Ademilson Rodrigues/"Folha de Fernandópolis"
O sapateiro David Mazete, que, em 46 anos de atuação profissional, só presenciou um furto em Fernandópolis
O sapateiro David Mazete, que, em 46 anos de atuação profissional, só presenciou um furto em Fernandópolis
Por ironia, um conflito marcou o processo de formação histórica da cidade paulista que não registrou, de janeiro a setembro de 2005, nenhum homicídio. O coordenador do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da FEF (Fundação Educacional de Fernandópolis), professor Givaldo César Borzillo, conta que, no fim da década de 30, havia dois núcleos urbanos (Brasilândia e Vila Pereira) na área em que hoje está estabelecido o município.

A disputa começou quando a primeira tornou-se sede do cartório de registros da região. Contrariadas, lideranças políticas da Vila Pereira invadiram Brasilândia, tomaram a repartição e subjugaram o povoado. Em 1944, a chegada do interventor Fernando Costa ao local marcou o fim da discórdia e a fundação da cidade.

Nascido na vizinha Votuporanga, um ano depois, o sapateiro David Mazete se mudou para Fernandópolis em 1954, a tempo de testemunhar a chegada da Estrada de Ferro Araraquarense, a pavimentação da Rodovia Euclides da Cunha e a inauguração da Hidrelétrica da Água Vermelha, obras que impulsionaram a economia da região.

Ao som de Bee Gees, Abba e dos sertanejos Pedro Bento & Zé da Estrada, viu a cultura da cana-de-açúcar se impor como principal fonte de renda. Nas horas de folga, batia ponto no extinto Cine Fernandópolis para conferir as palhaçadas de Mazzaropi e a forma impecável das musas Brigitte Bardot e Sarita Montiel. "Tinha um cara no cinema que era meu amigo, tirava um pedaço do filme e eu mandava revelar", confidencia Mazete, sobre as fitas estreladas pelas beldades.

Se o passar dos anos afastou o sapateiro da sala escura, não alterou sua percepção sobre o nível de violência na cidade. Noave

balcão da loja instalada no coração do centro comercial da cidade, ele diz só ter visto, em 46 anos de ofício, um furto. "Me sinto seguro; (a criminalidade) está mais ou menos igual ao que era antes."

As maiores preocupações desse senhor de 60 anos são a juventude "que vai à discoteca para acabar com o baile" e o desemprego, essa última compartilhada por boa parte das pessoas ouvidas pela reportagem da Folha.

O mercado de trabalho parece ser a única inquietação do marceneiro Nivaldo Ângelo, que voltou à terra natal há quatro anos, após uma temporada de 20 no bairro Santa Cecília, centro de São Paulo. "Não sinto falta de nada e não tenho intenção de voltar", afirma.

Num domingo à tarde, em uma roda de amigos reunidos num boteco da Vila Miotto, ele prefere falar sobre as dimensões do Estádio Cláudio Rodante ("o maior da região, depois do de Mirassol"), casa do combalido time local, o FFC (Fernandópolis Futebol Clube), que disputa a 4ª Divisão do Campeonato Paulista. Com a ajuda dos companheiros de chope, a lista dos orgulhos da cidade cresce rapidamente. As contribuições vão desde o setor de eventos ("a 3ª maior festa agropecuária do Estado") até a área acadêmica. "Aqui está o melhor curso de enfermagem do Brasil", garante um deles.

Com duas instituições de ensino superior, o município se transformou em um pólo universitário. Ali aportam estudantes de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Alguns atravessam o país para obter o diploma em Fernandópolis, como o acreano Wilder Afonso Dias, que cursa o segundo semestre de enfermagem. Ele gosta das festas paulistas, mas tem saudades das iguarias nortistas. "Sinto falta do tacacá, do açaí e do cupuaçu", lista o estudante. (LN)
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