21/06/2006
Íntegra de entrevista: Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
Por que "Dois" começa com um trechinho de "Será"? Vocês quiseram passar algum recado com isso?
Era uma brincadeira. O dial do rádio passando e aí começa a tocar "Será", tipo a nossa música toca no rádio... E daí pra frente vem mais!
Por que uma capa tão sisuda para o disco?
A gente escolheu não usar foto da banda na capa, querendo ser tipo Joy Division, New Order, acreditando na sisudez e na estética espartana, "olha como a gente é sério e se leva a sério". Faltou um pouco de humor talvez...
A idéia inicial era que o disco fosse duplo e se chamasse "Mitologia e Intuição". Por que a mudança de planos com relação ao formato e ao nome?
Essa era uma idéia recorrente do Renato. Ele tinha uma certa fixação por álbuns duplos, e foi assim até o fim... Nunca vingou tal idéia porque vinha sempre alguém e dizia que o disco iria custar o dobro do preço e as pessoas não iam ter dinheiro pra comprar etc. Essas babozeiras de sub-economia.
O nome "Mitologia e Intuição" é bem bacana... Uma pequena tradução de como a banda funcionava.
Quanto tempo durou a gravação do disco?
Não lembro exatamente. A gente ficava um tempão no estúdio da gravadora sem muita pressão. Acho que foi algo em torno de seis meses.
Qual a importância que o produtor Mayrton Bahia teve para esse projeto?
Toda, enorme. Ele era uma espécie de guru da segurança e auto-estima. Sempre bem intencionado, compreensivo e eficiente no comando da produção. Ele é um grande cara e foi de extrema importância na vida da banda.
Qual foi a primeira música do disco a ser gravada? E a última? Qual foi a que demorou mais?
Não lembro, mas acho que foi "Daniel Na Cova dos Leões". A última, com certeza, foi "Índios". O Renato colocou a voz com a mixagem da música em andamento. A que mais demorou foi "Andrea Doria". A música não vinha... Bota violão, tira violão, guitarra, teclados etc. A base não vinha nunca... Essas coisas às vezes acontecem. Até hoje quando ouço essa música, vem o pesadelo da gravação junto. No final acabou acontecendo e ficou linda.
Quais foram as principais influências da banda para a gravação desse disco?
Os anos 80 da época. Tem um pouco de tudo. The Smiths, The Cure, Dead Kennedys e o lance ‘folk‘ dos violões, que acabaram em primeiro plano.
E qual foi a influência que "Dois" teve na sonoridade da banda para os discos futuros?
A gente se acostumou com o ambiente no estúdio, passou a achar que era um lugar aconchegante, tipo a extensão da sua casa. Acreditamos que era realmente possível fazer música e discos a partir desse disco.
Quando lançaram o disco, vocês tinham alguma idéia de que ele iria marcar tanto o Rock Brasil?
Não.
Vocês mudariam alguma coisa no disco?
Não. Seria outro disco então... Ele pertence ao tempo, 1986...
Vocês consideram "Dois" o melhor disco da banda? Consideram o mais influente? Quais artistas você acha que claramente foram influenciados pela Legião Urbana?
Não. Acho o "Quatro Estações" (1989) mais completo, sei lá... Um artista que foi claramente influenciado por nós? Aquela banda gospel Catedral, com certeza.
Qual você considera a maior diferença entre esse disco e o primeiro?
No fundo, no fundo, acho que os dois falam das mesmas coisas: amor, juventude, descobertas etc. Só que talvez o "Dois" seja mais lírico, lúdico e tem diferentes formatos de arranjos tipo "Eduardo e Monica" e "Índios".
O que você acha do disco "Cabeça Dinossauro", dos Titãs?
Fabuloso! Foi uma época fabulosa em que os artistas estavam na plenitude da criação e experimentação... "Bichos Escrotos", "Polícia", "AAUU"... Foi arrebatador!
O que você acha do disco "Selvagem?", dos Paralamas do Sucesso?
Fabuloso! "Alagados", "Selvagem", "Teerã", "A Dama e o Vagabundo"... O lance do reggae foi a virada definitiva no som da banda. E veio pra ficar, um clássico... Aliás, eu estava naquele acampamento da foto da capa do "Selvagem?", em que aparece o Pedro Ribeiro [irmão do baixista Bi Ribeiro, dos Paralamas].
Há mais alguma curiosidade, detalhe sobre a gravação do disco que você gostaria de contar?
Não exatamente. A não ser que estávamos diante de um grande desafio e o Renato tinha clara noção do que ele queria com uma espécie de cartilha do disco. Eu não tinha a menor noção do possível resultado daquela experiência. Queria aprender a tocar o melhor possível aquelas músicas.
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