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Novo em Folha 42ª turma
10/07/2007

Diário de Bordo - Sete Erros

CLARA FAGUNDES
da EQUIPE DE TREINAMENTO

A sexta está tranqüila. Nada de fechamento, daqui a pouco ligo para confirmar a pizza, que já tinha desmarcado com amigos. Legal? Não... a minha matéria caiu! Bem, não caiu: vai ficar na internet e, quem sabe, entrar no jornal impresso na próxima semana. Quem sabe?

Foram duas semanas de trabalho. Que começaram mal, melhoraram e seguiram pela montanha-russa até virarem a contracapa do caderno final de treinamento.

A primeira dificuldade foi escolher a pauta. Eu tinha, inicialmente, pensado em fazer uma matéria sobre o tempo perdido nas filas da noite paulistana. A proposta era fazer um levantamento próprio.

A notícia de que a melhor matéria sobre políticas públicas concorreria a uma viagem para Washington, porém, mudou meus planos. E assim, me vi pesquisando políticas públicas contra a homofobia. Como tema, ok. Mas não achei a notícia [erro 1 - falta de foco]. Meu gancho, a parada gay, desfilaria antes do caderno. Enfim: tinha tudo para não dar em nada - e não deu.

Comecei uma pesquisa sobre o acesso dos jovens a terra, mas faltava vida à história.

Voltei às filas. A primeira noite foi justo uma segunda-feira, e, claro, a noite mais desanimada da semana não rendeu muito. Decidi concentrar esforços de quinta a domingo.

Mas o problema não era apenas o dia da semanha. Há três meses em São Paulo, eu conhecia pouco a vida noturna da cidade. Hora de apelar para os amigos, "padrinhos" da redação, Orkut, guias da cidade...

Logo, tinha um roteiro: na verdade, apenas uma lista provisória de lugares e ruas para visitar. Sugestões continuaram chegando e encontrei outros lugares badalados circulando pelas ruas, conversando com as pessoas nas filas.

Lá pela décima "entrevista" com os que esperavam, eu tinha bastante material. Mas valia pouco. As pessoas repetiam versões muito parecidas de como é chato esperar. "Quem vai ler isso?", pensei.

Ana sugeriu que eu falasse também alguns famosos, pediu que eu fizesse uma lista de 20 nomes.

Continuei trabalhando, rodando pelas filas da noite: cinemas, baladas, restaurantes e bares. Descobri um profissional que, sem sindicato e com muitos nomes, passa despercebido. É o "chefe de fila". O homem ou mulher que passa horas controlando quem chega, quem entra e distribuindo senhas: hostess, assistente de maitre, segurança, porteiro, recepcionista...

Uma gente que tem muitas histórias para contar.

No dia seguinte, a estratégia de procurar no Orkut (dica de Flávia Mantovani) deu resultado inesperado. Uma adolescente tinha respondido, contando o caso de um "barraco" na fila.

Quis saber mais, quem sabe podia render algo? Liguei. Durante a conversa, descobri que ela e vários amigos adoram filas de show. Passam dias na fila, só para curtir, às vezes até sem ingresso.

Marquei a entrevista, reuni a turma, pautei o foto.. E, no sábado, vim para Folha. Estava tudo certo.

...até dar errado: o fotografo ia chegar lá pelas 16h, 16h30. Insisti no horário marcado, consegui um atraso menor. Liguei para confirmar o endereço. Ninguém atendia ao telefone na casa onde seria a entrevista. Já não dava para remarcar. Fui.

Com a pressa, escrevi o nome da rua errado e perdi longos minutos consultando o guia, até descobrir o endereço. Felizmente, o motorista sabia "mais ou menos" onde era e, enquanto isso, seguiu pela marginal. Chegamos a tempo.

Encontrei uma turma de sete adolescentes. A minha personagem original estava se produzindo e chegou logo depois. Começamos a entrevista.

O fotográfo chegou apressado, tinha três outras pautas para a mesma tarde. Deixei para depois a uma foto da entrevista interrompida, que eu precisava para o making of do caderno. Ele terminou rápido e saiu antes que eu lembrasse da foto [erro 2 - esquecimento].

Faltavam também algumas informações dos lugares que já tinha visitado; o jeito era ligar e confirmar [erro 3 - levantamento incompleto].

Absorvida nisso, fui negligenciando uma tarefa simples: fazer uma lista de famosos para entrevistar [erro 4 - negligenciar as tarefas mais simples].

Essa sugestão não tinha me convencido totalmente, mas não é que eu quisesse boicotar. Apenas adiei, porque sempre apareciam outras prioridades, como organizar as informações numa tabela (outra sugestão de Ana, editora de treinamento).

Apesar de alguns delizes, eu tinha apurado bastante nas rondas pela noite paulistana. Escrevi o texto; a editora não gostou. Estava ruim mesmo, com poucas informações concretas, apesar de todo o levantamento e das muitas horas rodadas em São Paulo [erro 5 - contar impressões, não fatos].

Refiz, refiz, e lá pelas tantas, estava pronto.

Eu já tinha pautado a arte, que finalmente ficou pronta. Revisei: tinha muitos erros de padronização, nem todos meus. Refizemos; deixei passar alguns erros. Finalmente, meia hora antes do fechamento, na última checagem das informações, eu percebi que a grafia de um dos lugares estava errada.

A revisão de uma colega apontou outro um erro ortográfico no texto "pronto". Corrigi. [erro 6 - correção pouco atenta].

No dia seguinte, o "Novo em Folha" ficou pronto. Agora só tínhamos que fechar os textos para a edição nacional. Uma versão reduzida, mutilada pelos anúncios e pela concorrência, saudável, com as outras notícias do dia.

Surpresa: não tinha espaço para a minha matéria. Quem sabe na semana que vem?

Até lá, procuro o sétimo erro.

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