12/12/2007
Mãe-de-santo tomba terreiro que viraria um supermercado
RICARDO SANGIOVANNI
DA EQUIPE DE TREINAMENTO
A tranqüilidade de que desfruta hoje a mãe-de-santo Sylvia de Oxalá, 69, do terreiro Axé Ilê Obá, quase a faz esquecer da batalha que liderou há 20 anos pela preservação de seu espaço sagrado, assegurada somente após o tombamento pelo Condephaat, em 1990.
Construído entre 1964 e 1975, o terreiro foi o primeiro e, até hoje, o único tombado pelo patrimônio estadual _na capital, são cerca de 3.000 locais de culto, segundo estimativa do professor de sociologia da USP José Reginaldo Prandi.
Antes do tombamento, os problemas começaram em 1986, após a morte do antigo proprietário, o pai-de-santo Caio de Xangô (tio de Sylvia). O destino a ser dado ao terreno de 4.000 m2, a 3 km do terminal rodoviário do Jabaquara, passou a ser disputado por cinco sobrinhos que tinham direito à herança.
A disputa abriu espaço para o assédio do mercado imobiliário. Houve propostas para demolir o prédio e derrubar árvores sagradas para dar lugar a um estacionamento ou a um supermercado.
Oficialmente, o Axé Ilê Obá foi tombado por ser um "exemplo típico da formação das casas de culto dos orixás em São Paulo", segundo a resolução do Condephaat. Na prática, "foi uma estratégia política para evitar que desaparecesse", diz Prandi, que à época deu parecer favorável ao tombamento.