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04/08/2008

Aos 84, "zelador" de Serra do Navio tenta proteger suas terras da mineração

DO ENVIADO ESPECIAL A SERRA DO NAVIO (AP)

josé Francisco da Silva, 84, mora numa pequena cabana de madeira a cerca de 8 km do centro de Serra do Navio, às margens do rio Amapari. Para chegar até ali, duas opções: ou de barco, ou cruzando a pé um terreno alagadiço, enlameado, ocupado apenas pelas suas 13 cabeças de gado.
Apoiado na muleta que faz as vezes de perna direita, afetada por uma fratura no fêmur, e escorado na porta do casebre onde mora desde 1949, em meio à selva amazônica, Silva, de rosto enrugado e fala prejudicada pelo único dente que lhe resta na boca, é uma espécie de zelador de Serra do Navio.
Até agora, o único prêmio está na salinha de sua casa, fazendo companhia à televisão que não funciona e à geladeira azul comprada há décadas.
É uma moldura com o título de "cidadão serrano", concedido pelos vereadores de Serra do Navio em 1994. Foi o auge do reconhecimento numa carreira iniciada no auxílio à construção de Serra do Navio e à extração de "manganês, ouro e até diamante".

Breno Costa/Folha Imagem
José Francisco da Silva na porta de sua casa, em frente ao rio Amapari, em Serra do Navio
José Francisco da Silva na porta de sua casa, em frente ao rio Amapari, em Serra do Navio

Hoje, seu lado zelador é pontuado, diz, por discursos inflamados e vitoriosos contra tentativas, por exemplo, de levar para a cidade milhões de toneladas de manganês contaminado.
Mais que o diploma de cidadão local, tem a autoridade de quem chegou quando, onde hoje há casas, só havia mato. Suas terras eram bem maiores, mas não sabe precisar quanto. "Era dono de tudo isso aqui." Foram tomadas na corrida do manganês, afirma. Hoje a missão é proteger o que lhe resta.
Seus 165 hectares (cerca de 210 campos de futebol) são quase todos ocupados por mata nativa. Uma meia-dúzia de galinhas e uma pequena roça ajudam no ritual de preparação da "bóia" para a semana, todas as terças-feiras.
Ainda é uma exceção num lugar onde ninguém é dono de nada e em que a maior parte do solo foi cedido pelo governo para que toneladas e toneladas de minérios fossem extraídas por mineradoras.
Desde que sua mulher foi fulminada por um raio numa tarde de 2000 em frente de casa, a missão de Silva, que vive de uma aposentadoria de R$ 415 mensais, ficou mais complicada. Seus filhos moram na cidade. Por que não vai para lá, morar com eles?
A resposta vem em tom bravo. "Eu não posso sair daqui. Tem riqueza aqui embaixo. Não vou deixar isso sozinho para os invasores. Essas empresas levam tudo." (BRENO COSTA)

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