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Sono
04/12/2004

A insônia na literatura

MARCELO SALINAS
Da equipe de trainees

1) Insônia - Graciliano Ramos (1892-1953)
"Não consigo estirar-me na cama, embrutecer-me novamente: impossível a adaptação aos lençóis e às coisas moles que enchem o colchão e os travesseiros"

Ficção:
O único personagem do conto narra, em primeira pessoa, delírios que o fizeram despertar. Durante a noite, a dúvida obsessiva entre um "sim" e um "não" o atordoa e o confunde, frustrando a vontade de dormir

Realidade:
A hiperatividade intelectual é uma das características dos insones crônicos

2) Insônia - Stephen King (1947)
"Embora estivesse acordado há vinte e quatro horas àquela altura, o último vestígio de sonolência abandonou seu corpo e sua mente (...) Sentia-se cansado, sim --profundamente cansado, como jamais se sentira na vida-- mas descobrira que entre sentir cansaço e sono havia, por vezes, uma enorme distância. O sono, aquele amigo imparcial, o melhor e mais confiável enfermeiro da humanidade desde a aurora do tempo, mais uma vez o abandonara"

Ficção:
Ralph Roberts, o personagem principal do romance, tem insônia terminal --desperta no terço final da noite e não consegue voltar a dormir. O problema faz com que fique cansado e se esqueça das coisas, alimentando a crença de que nunca mais voltará a dormir

Realidade:
É comum que insones crônicos tenham crenças distorcidas sobre o sono e a insônia, o que tende a reforçar o problema. A terapia cognitivo-comportamental visa a desmistificar esses falsos conceitos

3) Em Busca do Tempo Perdido - Marcel Proust (1871-1922)
"E assim ficava eu muitas vezes até de madrugada, pensando nos tempos de Combray, em minhas tristes noites de insônia, e em tantos dias também, cuja imagem me fora mais recentemente evocada pelo sabor, "o perfume", como diriam em Combray, de uma taça de chá"

Ficção:
Proust descreve, em quase trinta páginas, as dificuldades de um personagem em dormir. Ansioso, ele rola na cama e não consegue cair no sono

Realidade:
Um dos maus hábitos de quem não consegue dormir é manter-se acordado na cama. Especialistas recomendam que o insone só vá para cama quando estiver, de fato, sonolento

4) Uma História Enfadonha - Anton Tchecov (1860-1904)
"Com respeito ao meu modo de vida atual, devo ceder lugar de primazia à insônia que tenho sofrido ultimamente. Se fosse questionado sobre o que constitui a característica fundamental de minha existência agora, eu responderia, insônia"

Ficção:
O personagem, que não se identifica na narrativa, é sexagenário e reclama de uma insônia que o tem incomodado recentemente. Ele desperta durante a noite, anda pela casa, lê um livro, mas não consegue dormir

Realidade:
A insônia é mais incidente em idosos

5) Funes, o memorioso - Jorge Luis Borges (1899-1986)
"Era-llhe muito difícil dormir. Dormir é distrair-se do mundo; Funes, de costas na cama, na sombra, figurava a si mesmo cada rachadura e cada moldura das casas distintas que o redoavam."

Ficção:
Irineu Funes, o personagem principal do conto, desenvolveu uma memória excepcional após sofrer um acidente e ficar paralítico. Passou a ter dificuldades para dormir

Realidade:
Não é o caso do personagem, mas muitas pessoas sofrem de insônia como decorrência do estresse pós-traumático

6) Crime e Castigo - Fiódor Dostoievski (1821-1881)
"Acordou no dia seguinte já tarde, depois de um sono intranquilo, mas o sono não o revigorou. Acordou amargo, irascível, com raiva, e olhou com ódio para o cubículo"

Ficção:
Conflitos morais e instabilidade emocional atrapalhavam o sono e a vida diária do estudante Ródion Raskolnikov

Realidade:
O sono fragmentado, não reparador, pode provocar cansaço, irritabilidade e indisposição e prejudicar a vida social de quem não dorme bem

7) Lavoura Arcaica - Raduan Nassar (1935)
"Que sono era esse tão frugal, tão imberbe, só sugando nos mamilos o caldo mais fino dos pomares? (...) não tenho outra pergunta nessas madrugadas inteiras em claro em que abro a janela e tenho ímpetos de acender círios em fileiras sobre as asas úmidas e silenciosas de uma brisa azul que feito um cachecol alado corre sempre na mesma hora a atmosfera"

Ficção:
A insônia é um dos problemas do narrador André, que abandonou a família após ter se apaixonado pela irmã

Realidade:
É comum que problemas de ordem pessoal alterem a rotina do sono, mas ele nem sempre volta ao normal quando a questão é resolvida. Isso acontece quando há adoção de hábitos que prejudicam o sono

8) Almas Mortas - Nikolai Gogol (1809-1852)
"‘Mas infelizmente,’ retrucou Chichikov, ‘tenho sofrido com indigestão, e meu sono é ruim. Não pratico exercício suficientemente’"

Ficção:
O anti-herói do romance, Chichikov, tinha a ambição de fazer fortuna fazendo trambiques com servos na Rússia tsarista. O sono não o satisfazia

Realidade:
Indigestão é causa comum de noites maldormidas. Antes de dormir, alimentos leves são mais recomendados. A prática de exercícios é indicada para uma boa rotina de sono

9) Um Sonho de Simplicidade - Rubem Braga (1913-1990)
"Seria possível deixar essa eterna inquietação das madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida de acordar bem cedo?"

Ficção:
O cronista reflete sobre as complicações da vida urbana e sonha com novos hábitos, mais simples

Realidade:
Uma mudança nos hábitos que reforçam a insônia pode solucionar as dificuldades de dormir de muita gente
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