São Paulo, sábado, 3 de janeiro de 2004

EM CENA

Da periferia para os palcos, conheça a saga dos meninos dançarinos do Bolshoi

Como se constrói um bailarino

Jorge Araújo/Folha Imagem
Meninos em aula na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville (SC)


DA ENVIADA ESPECIAL A JOINVILLE (SC)

De braço engessado, Isaías da Silva, 11, foi uma das 20 crianças que vieram da Paraíba para Joinville participar da seleção da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Com medo de não passar na pré-seleção paraibana, com cerca de 625 candidatos, o próprio Isaías tirou o gesso e foi de braço quebrado para o primeiro dia de teste. Foi mandado de volta para casa e precisou ir ao hospital para desfazer a arte. Voltou no dia seguinte, engessado, e pôde fazer a prova. Aí, sim, conseguiu. "Pensei que não fosse passar por causa desse gesso."
Isaías e mais seis crianças eufóricas receberam a notícia diretamente do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PSDB), que esteve na casa deles para anunciar: "Durante oito anos, vocês terão bolsa de estudo integral na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil". As crianças vão ser cuidadas por famílias de Joinville.
João Pessoa faz parte do primeiro convênio da escola com instituições do Nordeste e Norte. Em 2004, vão participar alunos de Belém (PA), Teresina (PI) e Anápolis (GO).
Outro garoto escolhido foi Geovan da Conceição, 11, que já foi morador de rua e agora vai ser bailarino. Com seis dedos em cada pé, ele costuma dizer: "Meu sexto dedo é o da sorte". Emocionado, o menino, que mora no abrigo Granja Morada do Betinho, em João Pessoa, devido a problemas de saúde da mãe, diz que também quer subir nos palcos para ajudar a família.
Turnês pelo mundo Quando começou no balé, o garoto Maikon Golini, 11, e os colegas não imaginavam que iriam conhecer outros Estados e países do mundo em tão pouco tempo de estudo. Golini passou para o 4º ano de balé. "Adorei dançar na Alemanha, em Teresina e em Recife", diz o mini Baryshnikov.
Os amigos dele, Denilson Vieira, 11, e Állan Rócio, 12, contam que antes sofriam com as brincadeiras na escola. "Hoje eles se orgulham em nos ver dançando", diz Rócio.

Katia Calsavara viajou a convite da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.

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