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São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2004

ELES ESTÃO POR TODA PARTE

CIÊNCIA

Saiba o que os cientistas estão descobrindo sobre os micróbios

VANESSA DE SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHINHA

Se você acha que o mundo invisível dos micróbios é silencioso, errou. Um cientista da Universidade da Califórnia (UCLA), que "adora música", segundo ele mesmo, descobriu que era possível ouvir o som produzido dentro de um fungo, mais precisamente o fungo microscópico (a levedura) que ajuda a fazer crescer a massa do pão que você come todo dia.
A levedura faz parte de um grupo especial de seres formados de apenas uma única célula -os microorganismos, ou micróbios, como são popularmente conhecidos- que possui todo o equipamento necessário para a sua sobrevivência e reprodução.
A maior parte dos micróbios é associada a doenças, até porque quem já ficou doente acaba nunca mais esquecendo. Mas parte deles "trabalha" para o homem, como é o caso dos microorganismos que ajudam a fazer o iogurte (uma bactéria) e daqueles a partir dos quais é possível fabricar remédios -caso de uma bactéria que vive no solo que produz a estreptomicina, um antibiótico.
"Embora muitos deles sejam importantes por produzirem alimentos, a indústria desse setor gasta mais dinheiro para conservar esses alimentos e para impedir que outros microorganismos os estraguem", diz Gláucia Maria Pastore, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
Supermicroscópio
James Gimzewski, do departamento de química da UCLA, conseguiu captar o som do fungo do pão porque posicionou sobre a levedura uma espécie de supermicroscópio ultra-sensível.
"Percebi que o movimento que acontecia dentro da célula tinha um ritmo que ficava dentro da faixa que é percebida pelo ouvido humano, ou seja, podia ser ouvida. Eu também adoro música, então foi divertido", disse o cientista à Folhinha. A pesquisa de James foi publicada recentemente numa das mais importantes revistas científicas do mundo, a "Science".
Segundo o cientista, o som que eles ouviram seria algo como "ficar com o ouvido colado na parede de uma fábrica que está a pleno vapor".
Escutar o som do interior de uma simples célula vai além da diversão. O pesquisador vai se dedicar a tentar "ouvir" uma célula humana. "Elas são mais delicadas do que a levedura, por isso deveremos levar mais tempo. No futuro, é possível que a gente consiga ouvir o som de uma célula doente e possa ajudar os médicos a detectarem uma doença logo no princípio", diz.
Não existem mecânicos que descobrem o problema de um carro só pelo barulho que ele faz?

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