UOL
São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

MINICONTO

Minha filha

Fabrício Carpinejar

Minha filha não nasceu
para dias de chuva.
Ela se irrita com a falta do que fazer,

de viver em roda, revisar
as gavetas e ler livros.
Ela cansa de olhar a janela,

de olhar a porta,
de olhar a conversa,
de simplesmente olhar.

O sol é sua mecha colorida.
Em dias de chuva, minha filha
provoca o irmão, a mãe, a avó, o cachorro.

Em dias de chuva,
não escapará das obrigações
de arrumar a cama e o armário.

Em dias de chuva,
minha filha não suporta a casa
do tamanho do seu quarto.


Fabrício Carpinejar é escritor, autor de "Porto Alegre e o Dia em que a Cidade Fugiu de Casa" (Alaúde, 2004) e "O Amor Esquece de Começar" (Bertrand Brasil, 2006). O poema faz parte do inédito "Meu filho, Minha Filha".

Texto Anterior | Índice


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.