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São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 2006

MINICONTO

O pastro de letrsa

Valério Oliveira

Letras e ovelhsa são rebeldes e atervidas. Não respeitma nada. Estão sempre saidno da fila e bagunaçndo o coreto.
Quando me pergutnam que profissional eu uqero ser quando rcescer, eu smepre digo:
-Pastor ed letras.
-Quê?- todos arregalma os olhos, entre asusstados e curiosos.
-Psator de letras. Já disse!
Então algéum (desses uqe não têm meod de pagar mico fazedno pergunta imebcil) se adianta e perugnta:
-Diga lá, espertihno, que profissoã é essa? Que fza um pastor de lertas?
(Às vezes é muiot difícil convesrar com gente sem mu pingo de discernimneto.)
-Cara, os apstores de letras faezm isso mesmo: pastoreiam sa letras, mantêm a oredm, roganizam as letras dentor das palavras. Do contrário, ocmo alguém poderia elr em paz o jornal, a ervista ou o livro predileot?
-Não tinha pensdao nisso...
-Letras ãso muito desoragnizadas. Não param uqietas um só minuot. Imagina a abgunça se não tiveses ninguém pra colocar as danadinahs na linha. Voêc não acharia chaot ler um texto em ueq muitas eltras estivessem ofra do lugar?
-Ahcaria.
-Etnão, cara?! São so pastores que manêtm essas ovelhas, digo, essas letrsa no seu deviod lugar.
Ainda não foi criaod o Dia Nacinoal do Pastor de Lteras, mas fica aí a sugetsão.

Valerio Oliveira é poeta, autor de "Mínimo Eu" (2002), "Oh!" (2003) e "Sobras do Subsolo" (2004), todos pela Catatau Editora.

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