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São Paulo, sábado, 26 de junho de 2004

Ondas cerebrais controlam robô

Kazuhiro Nogi - 18.jun.04/France Presse
Demonstração do dispositivo "Data Glass 2/A" no Japão


DA REDAÇÃO

Kevin Warwick é professor de cibernética na Universidade de Reading, na Inglaterra. Ele fez uma segunda cirurgia para colocar no corpo um chip de computador ainda mais complicado. E falou para a mulher dele receber o processador.
Cibernética é o estudo das comunicações e sistemas de controle nos organismos vivos e nas máquinas.
Kevin virou um homem meio máquina como parte de seus estudos. Ficou por três meses com microeletrodos implantados no corpo, há dois anos. Nesta entrevista exclusiva à Folhinha, feita por e-mail, ele conta sua história. (RL)

Folhinha - Sua vida é diferente depois dos chips?
Kevin Warwick -
Claro. Depois do primeiro implante, portas se abriam e luzes se acendiam quando eu andava em meu prédio. Com o segundo chip, eu passei a controlar certos aparelhos apenas com as ondas cerebrais.
Folhinha - Qual a diferença entre os implantes?
Warwick -
O primeiro era apenas um mecanismo para identificação [para que Kevin fosse reconhecido por certos aparelhos e, assim, as luzes se acendessem quando ele entrasse numa sala, por exemplo". Com o segundo chip implantado, meu sistema nervoso pôde se comunicar com o computador. Portanto foi bem diferente.
Folhinha - O que foi instalado em seu corpo?
Warwick -
Um microcircuito com cem eletrodos em minhas fibras nervosas. Meu sistema nervoso fica em comunicação com o computador.
Folhinha - Dói? O senhor sente o implante?
Warwick -
Não há dor nem incômodo nenhum. Meu corpo aceitou os implantes.
Folhinha - O que faz agora que antes não fazia?
Warwick -
Controlo um braço robótico do outro lado do oceano Atlântico simplesmente com sinais emitidos por meu cérebro. Percebo o mundo com ultra-som. Comunico-me diretamente a partir de meu sistema nervoso (sem palavras, sem movimentos). Controlo uma cadeira de rodas com sinais nervosos.
Folhinha - O que aconteceu de mais curioso com o segundo implante?
Warwick -
O implante ficou no lugar por três meses: meu corpo não o rejeitou; ao contrário, parecia não querer perdê-lo. Cresceram tecidos em volta dele mantendo o implante no lugar.
O mais legal foi ter ganho um novo sentido, o ultra-som. Meu cérebro passou a funcionar como um sonar, um sentido similar ao dos morcegos, e eu podia, por exemplo, caminhar por uma sala com olhos vendados sem bater em móveis ou objetos.
Folhinha - Sua mulher recebeu implante?
Warwick -
Ela teve eletrodos colocados em seu sistema nervoso. Nós fomos as primeiras pessoas do mundo capazes de nos comunicarmos de sistema nervoso para sistema nervoso -a base para a comunicação por pensamento.
Folha - Qual é o futuro do ciborguismo?
Warwick -
O lado positivo é auxiliar aqueles com problemas físicos, como quem sofreu fratura na espinha, ou os deficientes visuais. Pode servir para simplesmente aumentar as capacidades físicas de algumas pessoas, para ganhar memória, capacidade de comunicação por pensamento e sentidos mais apurados.
Folhinha - O senhor ficou uma pessoa melhor após os implantes?
Warwick -
Espero ansioso meu próximo implante para ser capaz de ligar diretamente meu cérebro aos computadores. Como humano, eu me sinto muito limitado.

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