São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Prefeito elege favela como prioridade em 94

LUIS HENRIQUE AMARAL; ALEXANDRE SECCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Paulo Maluf (PPR) elegeu a urbanização de favelas como prioridade para 94. A idéia, batizada de Projeto Cingapura, pretende atender 70 mil pessoas em 14 favelas da capital. "Melhorar as favelas é um desafio que não foi vencido por nenhum prefeito", disse o prefeito.
Ao completar um ano à frente da Prefeitura de São Paulo, Maluf se envolve em assuntos delicados: a Polícia Federal investiga a arrecadação de verbas para sua campanha, o IPTU de 94 terá reajuste acima da inflação, o desmoronamento na avenida Juscelino Kubitschek ainda não foi explicado e a área social da prefeitura perdeu dinheiro para obras viárias.
Na quinta-feira passada, Maluf atendeu a reportagem da Folha em seu gabinete no Palácio das Indústrias. Seu assessor de imprensa, Odon Pereira, condicionou a entrevista à proibição de perguntas sobre o escândalo Paubrasil. Maluf ainda não falou sobre o assunto esperando os desdobramentos do caso na Justiça.
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Folha - Qual sua avaliação do primeiro ano na prefeitura?
Paulo Maluf - Tive um ano de muitas alegrias. Se me frustrei é porque não consegui fazer as coisas na velocidade que gostaria. Provei que se pode construir uma ponte e um túnel em sete meses.
Folha - Quais são os planos para este ano?
Maluf - O US$ 1 bilhão que ia para a municipalização dos transportes do PT vai cair para US$ 200 milhões. Com a diferença faremos 70 escolas, gerando 100 mil vagas. Em 93 foram construídas 12 escolas, entre as começadas na administração anterior e no ano passado. Em 94 vão ser 70. Vamos passar de 700 mil para 800 mil crianças na rede municipal. Este ano quero construir 70 creches. Na administração anterior foram construídas 40.
Folha - E a área da saúde?
Maluf - Reativamos 250 leitos em hospitais. A falta de notícias sobre os hospitais mostra que a situação melhorou. Autorizamos a contratação de 1.900 médicos. Reestruturamos a carreira. Os médicos da prefeitura estão ganhando bem. Para 20 horas semanais, no início de carreira, recebem CR$ 180 mil por mês. As professoras estão ganhando bem. Não tivemos um dia de greve.
Folha - Qual o maior desafio de seu governo para 94?
Maluf - O projeto Cingapura. Em todo filme depois da Segunda Guerra, quando se queria falar de um lugar degradado, este lugar se chamava Cingapura, na época da dominação inglesa. Quando recebeu sua independência, atraiu investimentos e as antigas palafitas deram lugar a uma das mais bonitas cidades do mundo. Eles não removeram as favelas. Fizeram a reurbanização através da verticalização.
Folha - Como será o projeto?
Maluf - Vamos urbanizar as favelas. Quinze empresas se habilitaram. Se uma favela tem 100 m 2, ampliamos por quatro o número de andares, passando para 25 mil m2 ocupados. No resto, fazemos campo de futebol, área verde, creches, escola e posto de saúde. O projeto vai transformar a favela em um bairro. O favelado vai pagar uma pequena prestação e ter seu próprio apartamento. A idéia é atingir 70 mil pessoas em 14 favelas. Será feito com dinheiro da prefeitura e vai custar cerca de US$ 64 milhões.
Folha - O sr. subiu o IPTU de 94 acima da inflação.
Maluf - Não é verdade. A alíquota continua em 0,6%.
Folha - Mas a Planta Genérica de Valores foi alterada.
Maluf - Se uma casa vale dez e está registrada como valendo um, acho justo que a prefeitura suba para seis. Existem um milhão de imóveis que não pagarão imposto nem taxas. Quem vai pagar mais são os bancos na avenida Paulista, os grandes shoppings, grandes terrenos. Pode acontecer uma injustiça. A pessoa deve consultar a prefeitura neste caso.
Folha - Está satisfeito com todas as áreas de seu governo?
Maluf - Só estou meio bravo com o coronel Luiz Gonzaga de Oliveira, da Guarda Civil Metropolitana. Ele deixou faltar dois dias gasolina para a Romu.
Folha - A Ordem dos Adogados do Brasil afirma que só a PM tem autorização para fazer policiamento ostensivo.
Maluf - O bandido também não tem autorização para assassinar. Se o conselheiro da OAB tivesse a mulher e o filho assassinados mudaria de posição.
Folha - Quantos empregos já foram criados na sua gestão?
Maluf - Foram 27 mil. Se cada trabalhador tiver mulher e só dois filhos, são 100 mil pessoas que estão vivendo bem.
Folha - Os Conselhos Tutelares reclamam que não receberam dinheiro da prefeitura, o que contraria a Constituição.
Maluf - Em março, recebi representantes do conselho, que queriam sede própria em cada regional, telefone, carro e salário de US$ 1,5 mil. Perguntei se o conselho era para cuidar da criança ou do marmanjo. Quero trabalhar com quem tenha vocação sacerdotal e não para mordomia.
Folha - Todos querem saber o que houve na Juscelino Kubitschek. A prefeitura não apresentou as razões do desabamento.
Maluf - A prefeitura já entregou o laudo há uma semana para o Ministério Público. Só não divulgamos porque está na Justiça. O que aconteceu eu sei e poderia dizer, mas não vou dizer em respeito à Justiça. Não tenho nada contra a divulgação do laudo.
Folha - Neste ano na prefeitura, o que mudou em sua vida?
Maluf - Trabalho demais. A saúde está boa. Estou andando em casa meia hora por dia. Ando no quarto, vendo televisão.
Folha - Quem seria o homem do ano na sua administração?
Maluf - O Reynaldo de Barros, secretário de Desenvolvimento Urbano. É dos poucos que trabalha, quem sabe, mais que eu. É austero e correto. Só tenho uma preocupação. Ele trabalha muito, está muito gordo e fuma demais. Tem que parar de fumar e emagrecer.
Folha - O sr. já decidiu sobre a candidatura à Presidência?
Maluf - Se eu dissesse que não gostaria de ser candidato estaria mentindo. Se dissesse que já sou seria afoito. O prazo de decisão é março. O quadro não esta claro.

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