São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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Artifício arruina "Baile"

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O BAILE. Globo, 23h15.
França, Itália, 1983, 112 min. Direção: Ettore Scola.
Por hoje, a TV não dá mancada. É possível ver filmes a qualquer hora do dia, ou quase isso, sem se sentir idiota. Entre os programados há desde "Mowgli, o Menino Lobo", na versão Zoltan Korda, até a Marilyn Monroe de "Nunca Fui Santa".
Nenhum desses filmes é, porém, intocável. O inédito "O Baile", de Ettore Scola, ganhou uma bela reputação pela maneira como conta 50 anos de história francesa. Num salão de baile, mudam as músicas, a decoração, as preocupações. Há o momento do Front Populaire (1936), a ocupação nazista, o pós-guerra, 1968 etc.
Tudo é expresso por gestos e imagens. Esse ponto que é considerado a grande originalidade da empreitada pode, no entanto, ser visto também como sua limitação. Se o cinema é sonoro, o que se ganha ao não utilizar a fala?
A rigor, bem pouco. Pode-se dizer, inclusive, que o procedimento torna a compreensão privativa das pessoas que conhecem previamente a história francesa deste século. Embora o cinema seja uma arte onde tudo é permitido –do balé ao bangue-bangue–, não se perde nada quando a parte de cada um está definida. Evita-se, em todo caso, o perigo do "filme de arte".
É um pouco a tentação de Percy Adlon, em "Rosalie Vai às Compras", que a passa na Bandeirantes. Adlon procura um registro popular com temas "sérios" (o consumismo de Rosalie, no caso). O resultado é uma espécie de banalização, em que o pensamento não evolui, à força de querer se tornar aceitável.
Mas "Rosalie" tem a seu favor a atriz Marianne Sagebrecht: numa mão ela carrega seu cartão de crédito e com a outra leva Percy Adlon nas costas. Ela vale o filme, em suma. (Inácio Araujo)

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