São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
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O país interino

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A CPI do Orçamento parece estar se afogando em pouca água. Começa pelas divergências em torno da convocação ou não de três governadores para prestar depoimento. Não há a menor lógica em se hesitar em fazê-lo. Convocá-los não significa que sejam culpados, como aliás ocorreu no caso de todos os demais depoentes.
É verdade que a simples presença na CPI pode passar ao público a impressão de que o depoente é culpado e não apenas suspeito. Mas esse tipo de preocupação não pode manietar a CPI. Até porque político, em geral, culpado ou inocente, mencionado ou não no escandalo do Orçamento, é hoje no mínimo suspeito aos olhos de boa parte do público. Se a CPI passar a impressão de que está protegendo um ou outro político, essa injusta suspeição disseminada sobre os políticos acabará se justificando a posteriori.
Além disso, a CPI não pode ficar presa ao 17 de janeiro como prazo para encerramento de seus trabalhos, como se fosse uma data cabalística. O importante não é quando a CPI vai terminar, mas como vai terminar, se em pizza ou em uma apuração que a sociedade possa tomar no mínimo como aceitável.
O argumento de que a prorrogação do prazo pode impedir a revisão constitucional é confissão de despreparo da instituição. O número de parlamentares envolvidos na CPI (como investigadores ou como suspeitos) é relativamente reduzido e, por isso, não pode servir de pretexto para que fiquem bloqueados os demais trabalhos próprios do Parlamento, revisão incluída.
Se o Congresso achar-se, mesmo, impossibilitado de tocar a revisão, que tenha a grandeza de convocar um Congresso Revisor exclusivo, conforme, aliás, proposta do deputado Gonzaga Motta (PMDB-CE). O que não seria tolerável é deixar-se a revisão para 1995, porque o presidente a ser eleito em 1994 precisa começar sua gestão com a questão resolvida.
Chega de transição, de interinidade, de provisoriedade. O país já está grandinho o suficiente para tentar ser gente em vez de apenas projeto.

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