São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Público inglês fica sem ídolos

FLAVIO GOMES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Grã-Bretanha vive o drama de não ter para quem torcer no próximo Mundial de Fórmula 1. O ar "cool" e distante de Damon Hill não consegue empolgar uma torcida que, em 92, proporcionou uma das mais impressionantes invasões de pista para comemorar uma vitória –de Mansell, em Silverstone.
Hill carrega o estigma de vencedor de ocasião. Mesmo na Inglaterra se admite que ele só ganhou três corridas em 93 porque tinha nas mãos um carro muito melhor do que os outros. Seus festejos de pódio foram todos sem graça. Nem nas tragédias Damon consegue fazer alguém sentir pena. Ele perdeu dois GPs este ano, na Inglaterra e na Alemanha, depois de liderar o tempo todo. Em Silverstone estourou o motor no fim; em Hockenheim foi um pneu que furou.
Um piloto "normal" colocaria fogo nos boxes. Hill se conformou e ainda evitou atribuir as derrotas ao azar. "São coisas que acontecem em corridas", disse. Nada mais sem sal. Damon não tem um quinto do carisma do pai, o bicampeão mundial Graham Hill, e seu jeito gelado contrasta demais com o calor que Mansell passava aos seus fãs.
Hill, para piorar, tem um currículo obscuro. Começou correndo de motos em 79 e foi só sobre duas rodas que fez sucesso, com 40 vitórias em várias categorias. Passou para os carros em 83 e aterrissou na prestigiosa F-3 inglesa em 86. Em três anos, ganhou só quatro corridas. No fim de 88 migrou para a F-3.000, ficou a pé em 89, e disputou o campeonato da categoria em 90 e 91. Passou em branco, sem nenhum primeiro lugar.
A chance na Williams surgiu em 91, como piloto de testes. Em 92 chegou a disputar alguns GPs pela decadente Brabham substituindo Giovanna Amati e só conseguiu a vaga como segundo de Alain Prost em 93 porque o francês exigiu alguém sem grandes predicados como companheiro de equipe. Hill caiu com uma luva: não incomodou, não ameaçou e ainda levou o número zero na carenagem, virando alvo de piadinhas sem graça o ano inteiro.
Os britânicos chegaram a ter esperança em David Coulthard, escocês que se saiu bem na F-3 e na F-3.000, mas não decolou. A menina dos olhos da ilha, agora, é Kelvin Burt, 26, campeão inglês de F-3 em 93 com 9 vitórias e 13 pódios em 15 corridas.
Eddie Irvine, britânico da Irlanda do Norte, era um que poderia consolar as viúvas de Mansell se tivesse aparecido mais cedo na F-1. Tem estilo parecido em tudo, da agressividade no volante às declarações fortes com endereço certo. Mas na hora de optar entre a fama incerta e a conta bancária garantida, Eddie escolheu a segunda e foi desfilar suas maluquices no Japão. (FG)

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