São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Vencedores de Cannes estão em cartaz

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Quem espera reencontrar em "Adeus Minha Concubina" as "chinoiseries" de Zhang Yimou pode tirar o cavalo da chuva. Chen Kaige é um cineasta mais sólido e, embora seu filme seja belíssimo, menos esteta.
A "Concubina" deu a Kaige a Palma de Ouro em Cannes/93 e, enfim, a oportunidade, de um lançamento em São Paulo à altura de seu talento. O filme conta a história de dois atores da Opera de Pequim e, através de sua longa amizade, a história de boa parte da história chinesa neste século. É um dos grandes filmes de 93.
O que mais impressiona em "Concubina" é a riqueza dos sentimentos envolvidos: há amor, ciúme, obstinação, traições, vaidade. Há uma história que passa da república à revolução maoísta, antes de chegar à Revolução Cultural dos anos 60.
Nada menos do que se poderia esperar de alguém como Kaige, que esteve engajado na Revolução Cultural até o pescoço, foi o primeiro a projetar o cinema da "quinta geração" e nos anos 80 morou nos EUA: um filme ao mesmo tempo fincado no país e cosmopolita.
Outros filmes que certamente frequentarão várias listas de melhores do ano passado continuam em cartaz, firmes e fortes. Para começar, há "O Piano", filme australiano de Jane Campion que dividiu a Palma de Ouro com "Adeus Minha Concubina".
Campion é uma cineasta com sensibilidade de mulher, mas dirige como homem, isto é, não faz do fato um ponto de venda, embora mergulhe em questões especificamente femininas (aqui, o desencanto de um casamento de ocasião).
"Lua de Fel" marca a volta de Roman Polanski a um tipo de filme em que a perversão e a estranheza dão o tom. Polanski andava meio apagado, fazendo o gênero bom-moço, há alguns anos. "Lua de Fel" entra de sola em algo que sempre funcionou com o diretor: sexualidades conturbadas e anexos.
Outro que vem da Polônia para se instalar no Ocidente é Krzysztof Kieslowski. Para deixar essa intenção bem clara, o diretor de "Não Amarás" começou a rodar uma trilogia sobre as cores da bandeira francesa. "A Liberdade É Azul", que está em cartaz, é a primeira parte de seu novo trabalho. A questão, aqui, é recomeçar a vida e esquecer o passado. Ninguém dirá que não se trata de um filme pessoal
No setor aventura, o grande destaque fica por conta de "O Fugitivo", em que Andrew Davis narra a rocambolesca desdita de um médico acusado injustamente de matar a mulher. Ele precisa, ao mesmo tempo, fugir da polícia e perseguir o criminoso. O médico é Harrison Ford, mas quem toma conta do filme é Tommy Lee Jones, como o policial que o persegue. Se não tivesse outra virtude, o filme ainda teria Jones. Ele brilha.
Para terminar, não se pode passar em branco por alguns persistentes sucessos do ano passado: "Como Agua para Chocolate", "Feitiço do Tempo", "Sintonia de Amor" continuam aí para ser discutidos pelo aspecto que se preferir: o cinematográfico ou o sociológico. (IA)

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