São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Para teoria, nenhuma causa é desprezível

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém imagina que apenas um elétron pode fazer chover. Mas pode. Como disse o matemático francês Henri Poincaré no início do século, é uma daquelas "pequenas causas, que nos escapam, mas que determinam grandes efeitos". Fenômenos que dependem sensivelmente das condições iniciais são tratados pela teoria do caos.
O belga David Ruelle, radicado na França, foi um dos primeiros a popularizar idéias do princípio do século. Ao estudar turbulências em líquidos, encontrou resultados diferentes dos aceitos. Fez uma nova descrição e rompeu um paradigma: depois do caos, ninguém mais pode negligenciar fatores aparentemente desprezíveis em uma teoria.
Consequências foram notadas em diversas áreas: da música à xícara de chá. O caso mais curioso talvez seja a economia. Segundo Ruelle, os legisladores tentam encontrar um equilíbrio favorável à sociedade. Mas as leis podem provocar oscilações de efeitos desastrosos. "Nenhuma teoria econômica deu resultado até hoje", disse.
Mas o livro não pára aí. Guiado pelo próprio acaso, Ruelle passa, entre vários conceitos físicos, por uma elegante descrição da entropia –que mede a quantidade de acaso e desordem do Universo. Prova que ela nunca diminui. Ele também discute o papel do acaso na teoria da informação e até seu significado na variedade sexual –também regida pelo acaso.
As teorias do caos não descartam, no entanto, o determinismo. Mesmo sem ter controle sobre as condições iniciais de um fenômeno, elas dirigiram sua evolução. É o acaso que, adicionado às "condições iniciais caóticas", torna o futuro um mistério. (HGz)

ACASO E CAOS, de David Ruelle, Tradução de Roberto Leal Ferreira. Capa de Isabel Carballo. Editora Unesp (av. Rio Branco, 1210. Cep 01206-904, São Paulo, tel. 011/223-7088). 224 págs. Tiragem de 2.000 exemplares.

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