São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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Ir a fundo

Uma das principais expectativas da sociedade –se não a principal– com relação à CPI do Orçamento é a de que as investigações não parem até atingir o fundo do poço das falcatruas praticadas contra o dinheiro público. Pois é esse reclamo por apurações as mais amplas e profundas que, segundo esta Folha informou ontem, está agora ameaçado.
Técnicos que assessoram os trabalhos da comissão alertam que a maratona de depoimentos prevista para os próximos dias pode comprometer a apuração e que, sem tempo hábil para analisar e cruzar todas as informações disponíveis, muitos responsáveis pela rapinagem de recursos do contribuinte podem acabar sendo erroneamente inocentados.
Não há dúvida de que um processo investigativo ágil seria desejável e muito bem-vindo. Mas jamais com o sacrifício da profundidade das apurações. A responsabilidade da CPI, inafastável, é a de garantir que o rigor e o alcance dos trabalhos não sejam em momento algum ameaçados.
Sem prejuízo de outras atribuições do Congresso Nacional (como a votação da lei orçamentária e a revisão constitucional), essa CPI não pode fazer concessões na sua missão de desbaratar uma estrutura de vampirismo que há muito tempo suga o dinheiro que sai do bolso de todos nós.
Nunca é demais lembrar que está em jogo a credibilidade não só dessa comissão, mas também de todo o Congresso. Se a população vier a perceber que a CPI –por qualquer alegação que seja– não fez tudo o que devia para identificar os parasitas dos cofres públicos, que não mergulhou fundo o bastante na lama que macula o Parlamento, o Executivo e alguns setores da economia privada, o golpe na já debilitada imagem do Legislativo será enorme. E essa desconfiança ainda maior com relação ao Parlamento –resultado de justa frustração e revolta– poderia abrir um inquietante caminho para aventureiros autoritários.

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