São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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URV na mira

As negociações em torno do Orçamento prosseguem envoltas em incerteza política, mas o governo parece aos poucos preparar o terreno para a introdução da Unidade Real de Valor (URV), segunda etapa do Plano FHC. Trata assim de criar aos poucos na economia um ambiente de confiança na taxa de câmbio –base da URV, que poderá numa terceira etapa converter-se no novo padrão monetário do país.
O Executivo dispõe de dois instrumentos importantes para promover a confiança nas bases da futura moeda. São eles a liberalização dos mercados cambiais e a "dolarização" da dívida pública.
O Banco Central (BC) vem perseguindo com sucesso uma estratégia de liberalização gradual dos mercados de câmbio. Tal política, viável com o acúmulo de reservas internacionais, permitiu a eliminação do ágio. Quanto mais livres e abertos os mercados de câmbio, maiores as chances de que as taxas flutuem em torno de níveis realistas. A liberalização é, portanto, uma das condições para que aumente a credibilidade dos mercados na taxa de câmbio.
A dolarização da dívida pública é a outra ferramenta de política econômica disponível. Se o governo deseja que os mercados confiem na estabilidade da taxa cambial, deve ser o primeiro a assumir o risco de acreditar nisso. Por exemplo, convertendo a dívida pública em títulos atrelados ao câmbio. De fato, nos últimos três leilões o BC tem colocado Notas do Tesouro Nacional (NTNs) corrigidas pelo câmbio.
Na prática, os mercados têm pressionado o BC, exigindo taxas de juros reais que compensem as expectativas de uma inflação, em cruzeiros reais, cada vez mais alta. As NTNs cambiais garantem juros reais, ou seja, acima da correção cambial, da ordem de 25% ao ano. Nada menos do que sete vezes a taxa Libor, referência básica no mercado de Londres.
Uma política de juros tão elevados reforça a lógica do Plano FHC, mas coloca a economia no rumo da estagnação, além de onerar as próprias contas públicas. Há portanto o risco dessa política, se prolongada, converter-se numa armadilha a devorar as boas intenções do governo.
A elevação dos juros ajuda a aumentar a confiança no câmbio, base da URV e da futura moeda. Mas o lastro efetivo da moeda continua sendo o equilíbrio orçamentário. Sem esse ajuste, a inflação continuará e a URV será mais um tiro com boa mira, mas que terá saído pela culatra.

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