São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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As estrelas do PT

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Faltando apenas nove meses para a eleição presidencial, nenhum partido tem mais clara uma proposta para as Forças Armadas do que o PT. Isso fica nítido na entrevista publicada anteontem nesta Folha com um dos coordenadores do programa de Lula, César de Queiroz Benjamin.
Qual o papel dos militares? Segundo Benjamin, garantir a defesa do território nacional e a autonomia estratégica da nossa política externa. Como fazê-lo? Através de três medidas: 1) profissionalização dos quadros; 2) reaparelhamento das forças; 3) revitalização dos programas de capacitação tecnológica, incluindo os de tecnologia nuclear e a missão espacial. Com que recursos? Aumentando a participação orçamentária dos militares de 0,5% do PIB para 2%. De onde virá este dinheiro? Do aumento da carga tributária já anunciada pelo PT caso ganhe a eleição.
De quebra, Benjamin anuncia duas propostas interligadas de médio prazo: a criação do polêmico (entre os militares) Ministério da Defesa e a reestruturação operativa das Forças Armadas com a formação de uma força de ação imediata integrada por meios terrestres, aéreos e navais.
Está claro, portanto, que para o PT os militares não são mais um problema, como nas décadas de 60 e 70, mas uma solução. As convergências de interesses entre os dois lados –que podem ser resumidas numa plataforma nacionalista– superam os obstáculos ideológicos. O PT quer os militares como aliados e não como adversários ou espectadores neutros.
A entrevista de Benjamin deixou clara também a intenção de não isolar o país no cenário mundial. Sem atritos externos, com o apoio da opinião pública que o partido espera concretizar em votos e com o respaldo das Forças Armadas, o PT imagina que será mais fácil negociar com as chamadas elites e impor reformas que serão engolidas com dificuldade, como a reforma financeira e a reforma agrária.
O apoio dos militares é fundamental para a estratégia do partido. E o PT vem dizendo isto com todas as letras.

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