São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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Aviões no buraco

Uma empresa com muitos problemas para honrar seus pagamentos está à beira da concordata ou da falência. Dificilmente receberá novos empréstimos –para consegui-los terá que explicar muito bem como vai sair do vermelho. O governo, no entanto, quer que o Senado o autorize a assumir uma dívida da alquebrada Empresa Brasileira de Aeronáutica –Embraer. O ministro Fernando Henrique Cardoso explicou que o governo pretende pagar as contas da estatal dos aviões para "preservar a tecnologia nacional" e a "capacidade da empresa de produzir aeronaves". O ministro FHC só não explicou que a cobertura desse empréstimo é um mero paliativo para a crise de uma empresa que não dá sinais de que poderá decolar ou se manter com as próprias asas.
Até o momento o governo não expôs seus planos para Embraer. Ainda não disse à opinião pública de forma clara e inequívoca se quer prepará-la para a privatização ou se vai manter sob a responsabilidade do Estado mais uma tarefa que não lhe cabe –construir aviões. Isto é, pretende que os cidadãos concedam, no escuro e certamente a fundo perdido, dinheiro para manter uma empresa de viabilidade mais do que duvidosa. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda avança no bolso dos brasileiros com um pacote de aumento de impostos.
O governo tem imensas dificuldades para zerar suas contas e, no entanto, quer recursos para cobrir os buracos de uma atividade que não é da essência do Estado. Talvez não tenha dinheiro sequer para pagar os hospitais este ano. O país, doente e analfabeto, não vai decolar enquanto o Estado não se concentrar na sua missão precípua –e fabricar e vender aviões não é uma delas.

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