São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Paez crê na força do rock latino

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Fito Paez, 30, é o maior e mais atual fenômeno do rock argentino. Seu último disco, "El Amor Después del Amor", recém-lançado no Brasil pela Warner, vendeu mais de 500 mil cópias na Argentina. Seus shows levam até 45 mil pessoas a um estádio, o mesmo número de pessoas arrebanhado por Michael Jackson em sua passagem por Buenos Aires.
Conhecedor e admirador da cultura brasileira, Paez vai participar de todas as etapas do festival M.2000, que acontece nas praias de Santos (dia 8), Rio de Janeiro (dia 9) e Florianópolis (dias 21 e 23). É "o último respiro" da turnê de "El Amor Después...", que já dura dois anos. De Buenos Aires, Paez falou por telefone à Folha sobre seus shows no Brasil, o início de sua carreira e impressões sobre o público brasileiro.
*
Folha - Você conhece mais o Brasil do que o Brasil conhece você...
Paez - Acho que sim. Mas é uma situação que pode ser modificada a qualquer momento.
Folha - Este seria um bom momento?
Paez - Eu acho que sim. Hoje o Brasil está muito mais aberto às manifestações da música latina.
Folha - De onde tirou isso?
Paez - Quando fui ao Brasil, há um mês, as pessoas falavam muito sobre o Mercosul, que as culturas poderiam se relacionar mais. Acho que não é muito por aí. O Brasil é um lugar com uma personalidade muito interessante e muito potente. Quando uma música ou um poeta forte aparece no Brasil, ele acaba reconhecido. O reconhecimento não vem só de grandes contratos ou corporações.
Folha - Você já sabe o que vai cantar nos shows daqui?
Paez - Eu não tenho muito tempo. Em Santos, vou tocar uns 40 minutos. No Rio, uns 30. Mas acho que vou centrar o show no último disco ("El Amor Despues del Amor").
Folha - Sua carreira tem mais ou menos a idade do rock argentino, não é?
Paez - Comecei no início da década de 80, na época da guerra das Malvinas, em que o governo fez uma troca muito maléfica e terrível. Mandaram os meninos para as Malvinas ao mesmo tempo em que a música jovem argentina começava a poder ser executada nas rádios e nascia o mercado de rock em castelhano. Era um mercado pequeno. Hoje, dez anos depois, há uma verdadeira indústria em torno de tudo isso.
Folha - A explosão do rock brasileiro aconteceu na mesma época, embora não tivéssemos as Malvinas aqui...
Paez - Exatamente. Foi paralelo. Naquela época, também tínhamos Spinetta e Charly Garcia, que faziam música popular. Eram o equivalente a Caetano e Gil, embora Caetano e Gil fossem conhecidos em vários lugares do mundo. Aqui na Argentina foi muito mais difícil para os músicos, porque em 76 tinha começado uma ditadura, mais uma. Para ouvir Charly ou Spinetta havia espécies de reuniões clandestinas, porque não se podia reunir mais de 2 mil pessoas num lugar.
Folha - Você então é um legítimo filho da ditadura...
Paez - O único rebelde, o único que queria matar o pai (risos).
Folha - Hoje, no Brasil, há uma espécie de retomada da música popular brasileira, revitalizada por novas produções de antigos compositores e cantores, como Chico, Caetano e Gil. Há algo semelhante acontecendo na música argentina hoje?
Paez - Acho que sim. Algumas músicas aqui estão retomando compositores como Astor Piazzolla ou Yupanqui, que seria uma espécie de Dorival Caymmi daqui. Acho que estamos retomando isso porque são nossas raízes. Acho interessante o que acontece conosco, latino-americanos. Desde cedo escutamos Stevie Wonder e Beatles, mas eles não podem escutar Caetano ou Piazzolla. Temos uma grande vantagem sobre eles.
Folha - Você viu os shows de Madonna e Paul McCartney?
Paez - Vi Paul McCartney. Chorei o tempo todo. Madonna representa uma coisa que me cansa um pouco, mas gosto da reivindicação que faz da cultura gay.

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