São Paulo, quinta-feira, 6 de janeiro de 1994
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Starck cria TV politicamente correta

GIOVANNI BIANCO
DA REDAÇÃO

O francês Philippe Starck, 43, um dos mais importantes designers em todo o mundo, apresentou no final do ano passado na Itália seu primeiro aparelho de TV. Segundo ele, sua televisão representa o futuro. Ou melhor: faz parte do século 21. É ecologicamente correta, feita em pó de madeira, cola sem formalina e materiais plásticos coloridos à base de água, composta por partes desmontáveis para facilitar a reciclagem. A embalagem também é novidade. É feita em papelão, sem isopor, deixando ver a tela. Custa, na Itália, US$ 435.
Para Starck, "a TV é uma companheira da descoberta do mundo, como um amigo de todos os dias. Uma TV também deve oferecer prazer a seu dono".
Starck explodiu durante a era Mitterrand, em 1982, e logo ganhou status de ídolo. Popularizou-se nos EUA ao fazer os móveis do hotel Paramount, em Nova York, mas, há dois anos, Starck decidiu só trabalhar na Europa. "Descobri que os europeus estão se tranformando nos líderes de um movimento mundial porque sua indústria está começando a entender os erros e a providenciar o nosso bem-estar". Leia a seguir trechos da entrevista concedida pelo designer ao jornal italiano "Corriere della Sera".
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Pergunta - Como você avalia a produção atual de design?
Starck - Há 15 anos trabalho contra a corrente com a missão de explicar que a palavra "popular" significa qualidade, que a multiplicação é importante, e que o raro não é necessáriamente belo. Marketing é uma palavra inglesa para designar uma coisa suja, o clientelismo.
Pergunta - O que está mudando?
Starck - A relação entre o homem e a matéria, assim como o ambiente e o objeto industrial, dentro de um mercado que está se tornando moralista.
Pergunta - Em que sentido?
Starck - As pessoas se tornaram mais responsáveis. Entenderam que não podem mais consumir, arruinar e queimar como antes. Eu acredito ter um público adulto que entendeu os sinais do meio ambiente. Estamos todos aqui para nos ajudar. Tanto os criadores quanto os industriais. A ideologia do consumo não satisfez ninguém e nos conduziu a este abismo. O ex-consumidor deve exigir a legitimidade do seu desejo futuro. no século 21, os objetos inúteis desaparecerão para dar lugar ao retorno lúcido e voluntário do imaterial. Serão necessários dez anos, mas assistiremos à desmaterialização dos objetos.
Pergunta - Como deve ser um objeto, então?
Starck - Um sinal de simpatia e de amizade. Quero uma boa lâmpada que me dê ternura e calor. Conhece algum entusiasta? Eu não. É preciso recriar o entusiasmo desaparecido, eu com o design, o escritor com a palavra, o cantor com a música, e assim por diante. Mas com senso cívico. É preciso voltar a uma civilização feita de amor e de relações amistosas. Eu não tenho cultura, só conheço o significado da matéria, da forma e da cor.

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