São Paulo, sexta-feira, 7 de janeiro de 1994
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Dinossauros não entendem nossa língua

FRANCISCO WHITAKER

Na sua ingrata tarefa de defender seu indefensável patrão, o assessor-chefe de imprensa do prefeito Maluf me dá a possibilidade de aprofundar argumentos, na réplica às suas respostas aos meus artigos. Confirmo o que afirmei. Como nos artigos sobre o triste túnel do rio Pinheiros, que custa –uma só via, e só para automóveis– o mesmo que dez pontes. Desta vez, ao tratar do que escrevi em "Paulo, o dinossauro", publicado nesta coluna no dia 27/12, preferiu retrucar, como as crianças, em lugar de argumentar. E ao me chamar de paleolítico, me fez 150 milhões de anos mais moderno que seu chefe.
O sr. assessor demonstrou ainda que ele não se atualiza: graças a Deus já vão se distanciando os tristes tempos em que governantes ditos socialistas pretendiam "modelar cérebros". Ele parece nem estar informado de que o PT nasceu da crítica a visões equivocadas, na luta pela igualdade e superação da miséria. Não fosse assim teria bastado nos filiarmos a partidos de esquerda existentes, aos quais o sr. assessor se ligava antes de preferir a má companhia dos Jânios e Malufs da vida.
Mas o que importa é que em sua resposta o sr. assessor não alinhou nenhum contra-argumento à afirmação de que seu chefe estaria melhor em algum zoológico da era mesozóica. Querendo demagogicamente agradar uma maioria, aliás pouco atingida pela Folha, gastou todo o espaço de que dispunha atacando o PT, a partir de uma frase em que digo que seu chefe não se preocupa em elevar o nível de politização da população. Mais grave do que mantê-la no nível atestado pela eleição de Collor, é o que ele faz com as carências de nosso povo.
A isso me refiro na mesma frase, sem que tenha merecido a atenção do sr. assessor. Carência em moradia, saneamento básico, escolas, transporte, atendimento à saúde, e mesmo comida– como bem mostrou o despertar coletivo provocado pela campanha contra a fome. O que ocorre, neste aspecto, é algo efetivamente trágico: políticos arcaicos como Maluf –e suas prioridades como prefeito o demonstram– precisam manter essas carências para se eleger. São os que, na caça de votos na época de eleições, distribuem aos "descamisados", com dinheiro desviado do próprio povo, cestas básicas, tijolos, cimento, promessas de emprego e de asfalto, camisetas, brindes, ilusões. Ou que pagam um dia de trabalho para milhares de tristes boqueiros de urna.
Alguém observou: mas o assessor leu seu artigo "Paulo, o destruidor"? Leu sem entender. Palavras, como participação, cidadania, corresponsabilidade, não estão no dicionário de seu chefe.

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