São Paulo, sexta-feira, 7 de janeiro de 1994
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Disparada

Alta dos juros, aumento de impostos, antecipação especulativa de aumentos de preços visando à conversão à URV, impasse entre indústria e comércio na reposição de estoques, reação de oligopólios e pressão dos alimentos são alguns dos fatores que se somam para explicar a disparada da inflação. O mercado futuro de IGP-M aposta que em janeiro os preços subirão em média mais de 40%.
Já se acreditou que a inflação brasileira pudesse encontrar um nível de equilíbrio. Seria um mal menor, mais suportável, os preços continuarem subindo, mas a uma taxa relativamente constante. Em vários momentos tal situação pareceu real. Durante 1992, por exemplo, os índices de preços oscilaram entre 20% e 25%.
Na virada para 1993, os índices saltaram. Mas a alta, ao invés de reverter depois ou ser interpretada pelos agentes como um novo patamar estável, prosseguiu ao longo de 1993. O governo Itamar Franco parecia entretido com a ilusão de que em 1993 –como em 1992– mais cedo ou mais tarde a inflação encontraria um centro de gravidade confiável.
Mas em junho do ano passado o limiar dos 30% já era ultrapassado e agora, apenas seis meses depois, é a marca dos 40% que contamina a economia. Adicione-se às justificativas para a aceleração dos preços o contexto político –1994 é ano eleitoral. Ganha força a tese da "sarneyzação", repetição da escalada que em 1989 chegou a atingir a marca extraordinária dos 84% ao mês.
Contra o cenário mais pessimista há hoje dados novos, econômicos e políticos, que apontam para um possível controle do Orçamento federal. Há uma proposta de eliminação do déficit público em 1994 sendo encaminhada, assim como um repúdio sem precedentes à corrupção.
Estão mais claras nesse início de 1994 as condições necessárias para impedir a precipitação de uma hiperinflação aberta. Mas a emergência do novo patamar, 40%, é um sintoma alarmante de que a "inflação estável" é uma ilusão cujo risco maior é ser combatida tarde demais.

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