São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juros e tarifas tentam brecar especulação

SÔNIA MOSSRI
LILIANA LAVORATTI

LILIANA LAVORATTI; SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto negocia com empresários uma trégua nos aumentos de preços, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, está disposto a elevar ainda mais as taxas de juros e autorizar reajustes das tarifas públicas ligeiramente abaixo da inflação. A curto prazo, FHC espera que essas medidas reduzam a especulação, forçando a desova de estoques, e preparem a economia para a criação da URV (Unidade Real de Valor).
A nova política tarifária começou a ser praticada ontem, com os novos preços dos combustíveis. O reajuste linear de 17% autorizado por FHC ficou quatro pontos percentuais abaixo do aumento reivindicado pela Petrobrás para cobrir os custos de depreciação dos equipamentos. A legislação fixa que esse repasse seja feito duas vezes ao ano –em janeiro e julho. A Fazenda e a Petrobrás negociaram esse aumento parcelado em vários meses.
O assessor especial para Assuntos Institucionais, José Milton Dallari Soares, disse ontem à Folha que está acompanhando a evolução dos preços públicos e privados desde o dia 30 de dezembro. Hoje, Dallari reúne-se novamente com os produtores de leite pasteurizado, um dos setores que mais elevou seus preços em dezembro –44,20% para uma inflação de 38,52%, segundo o Indice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe.
"Ainda estou tentando entender o que está acontecendo com os preços", disse Dallari. A Fazenda não vê motivos para a alta de alguns setores, como o de leite pasteurizado, porque o produto está em plena safra. Os próximos segmentos industriais que vão se encontrar com Dallari são material escolar, higiene e limpeza.
Segundo a Folha apurou na Fazenda, o ministro acredita que poderá ter mais sucesso nas negociações com os empresários depois de conseguir aprovar no Congresso o pacote fiscal. O principal argumento de FHC é que os empresários não poderiam reclamar do governo, que teria dado demonstração de austeridade com os cortes de despesas embutidos no ajuste fiscal.
A exemplo do que já fez com a Telebrás e Eletrobrás, FHC avisou ontem ao presidente da Petrobrás, Joel Rennó, que não autorizará aumentos tarifários acima da inflação nem repasse aos preços dos custos de novos investimentos da empresa. Rennó alega uma defasagem média de 12 a 15% nos preços, enquanto a Secretaria de Política Econômica considera que a Petrobrás ainda tem "gordura" em função da recomposição realizada ao longo de 93.
Ainda com relação às taxas de juros, a estratégia da Fazenda é elevá-las ainda mais por um curto espaço de tempo. O objetivo seria combater a especulação dos empresários, que temem surpresas da equipe econômica após a criação da URV (Unidade Real de Valor).

Texto Anterior: Dallari vai monitorar preços de oligopólios
Próximo Texto: FHC quer conversão pela média
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.