São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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FHC quer conversão pela média

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Fazenda vai tentar convencer os diversos setores da economia de que será melhor para todos converter preços de cruzeiros reais para a URV (Unidade Real de Valor) pelo valor médio e não pelo valor de pico.
Ou seja, se um automóvel custa CR$ 1 milhão no primeiro dia do mês e mantém o mesmo valor no dia 30, com inflação de quase 1,5% ao dia, o governo acha que o preço a ser convertido para URV deveria ser CR$ 800 mil, aproximadamente o valor médio entre o pico do dia 1.º e o valor do dia 30.
Que argumentos terá o ministro Fernando Henrique Cardoso para esse esforço de convencimento aos outros setores da economia? O primeiro é dando o exemplo.
Há determinados preços importantes para a economia que são fixados pelo governo: combustíveis, água, luz, telefone (as tarifas em geral) e mais o salário mínimo e o salário do funcionalismo federal. Ao converter estes valores pela média, quando introduzir a URV, o Ministério da Fazenda estará dando um sinal claro.
Mas, como não há controle de preços privados no país e como a conversão será sempre voluntária, os empresários poderão ignorar o exemplo do governo. E o que restará então ao Ministério da Fazenda? "Conversar, negociar, é assim que se fazem essas coisas", responde o secretário-executivo da Fazenda, Clovis Carvalho.
Nessa negociação, o governo pode, por exemplo, atrasar a conversão dos preços privados e só autorizá-la quando estiver convencido de que os empresários não vão forçar aumentos abusivos. Pode ainda adotar política de juros altos, restringindo o consumo, de tal modo que preços altos não sejam aceitos pelo mercado.
Além disso, o governo pode ainda recorrer a ameaças de fiscalização generalizada ou reviver a idéia de legislação que puna aumentos abusivos, proposta pelo ex-ministro Paulo Haddad e depois sepultada.
Fora isso tudo, só restaria a conversão obrigatória pela média e o posterior congelamento dos preços. Mas o governo não vai fazer isso. Muita gente até gostaria, mas todo mundo sabe que não funciona mais. No primeiro dia do plano, os tribunais concederiam milhares de liminares derrubando tudo. (Carlos Alberto Sardenberg)

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