São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Otan encerra cúpula com nova ameaça de bombardear sérvios

HUMBERTO SACCOMANDI
DE LONDRES

Os líderes ocidentais ameaçaram novamente ontem atacar posições sérvias na Bósnia-Herzegóvina. A advertência foi feita no encerramento da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Bruxelas. Já houve ameaças anteriores, mas, segundo o presidente dos EUA, Bill Clinton, desta vez é para valer.
A Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) afirma que atacará caso os sérvios não cumpram duas determinações: permitir a reabertura do aeroporto de Tuzla e o revezamento das tropas da ONU estacionadas em Srebrenica.
O aeroporto de Tuzla é essencial para o fornecimento de ajuda humanitária para o norte da Bósnia. Em Srebrenica estão 150 soldados canadenses da ONU, que já deveriam ter sido substituídos por tropas holandesas, mas estão bloqueados na cidade.
"É intolerável que os canadenses e holandeses não possam completar o rodízio", disse o premiê britânico, John Major. "Pedimos várias vezes aos sérvios para abrirem o aeroporto. Eles recusaram. Desta vez, vamos fazer diferente", afirmou o chanceler francês, Alain Juppe. Os sérvios advertiram que um ataque faria naufragar as negociações de paz.
Esta ameaça é mais um teste de credibilidade para a Otan, que não cumpriu as anteriores –relacionadas ao bloqueio sérvio de cidades de maioria muçulmana sem acesso a ajuda humanitária e aos bombardeios contra populações civis, não mencionados agora. A guerra na Bósnia já dura 21 meses e provocou cerca de 200 mil mortes. A relutância da Otan a atacar reflete importantes divisões internas na organização. Vários países europeus e o Canadá, que têm soldados estacionados na Bósnia, temem que suas tropas sofram retaliações.
Ontem os 16 líderes da Otan cumpriram o ritual de elogiar-se mutuamente e agigantar as conquistas da reunião de cúpula. "Histórica", disse Clinton. "Abriu caminho para as mais profundas mudanças da história moderna", avaliou Major.
Concretamente, as decisões mais importantes foram a reafirmação do compromisso dos EUA com a defesa da Europa, com a manutenção de 100 mil soldados norte-americanos no continente, a incorporação dos países ex-comunistas da Europa (inicialmente como parceiros), sem data para filiação efetiva, e a reestruturação do comando da Otan, para se adaptar à era pós-Guerra Fria.
A primeira viagem de Clinton à Europa foi amplamente elogiada, tanto pelos líderes europeus como pela imprensa. Clinton conseguiu reavivar as relações entre EUA e Europa, endurecidas pela disputa comercial durante as negociações do Gatt.

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