São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Independentes também crescem

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário dos selos independentes, tradicionalmente reclamão, também parece ir muito bem, obrigado. Se o assunto não for estritamente dinheiro, e sim o número de novas bandas fazendo som inventivo e de qualidade, então a coisa vai muitíssimo bem. O número de selos criados nos últimos dois anos nas mais diversas latitudes do Brasil (leia quadro ao lado) é um atestado de saúde.
Até a insuspeita Natal, no Rio Grande do Norte, tem um selo especializado em hard rock, thrash metal e outras coisas pesadas. O Whiplash já lançou discos de quatro bandas, de São Paulo, Belém do Pará, Campina Grande e Porto Alegre.
Mayrton Bahia, sócio da Radical Records, não tem a menor dúvida de que a explosão do pop, do rock e do rap está no ar. "Sinto isso pela quantidade e qualidade do material que eu recebo de novas bandas. O mangue beat é genial, o movimento hip hop está crescendo em proporções interessantes, há muito interesse por ritmos brasileiros", diz.
"O acesso mais fácil à tecnologia também facilitou a produção de discos por pequenos selos. É diferente dos anos 80, quando as gravadoras ainda detinham o controle tecnológico da produção", diz Bahia, que há 15 anos trabalha na indústria fonográfica e em 93 optou por criar um selo independente com perfil radical.
A diversificação de estilos foi uma das saídas encontrada pela Natasha Records, selo independente do Rio. "No começo a gente pensava mais em rock, mas a gente abriu mais o leque, incluindo trilhas sonoras de filmes infantis ao lado do disco da banda baiana de hard-rock-funk-metal Uteros em Fúria", diz Conceição Lopes, uma das sócias do selo.
Conceição diz que a distribuição independente é um sonho da Natasha. Aliás, uma espécie de sonho coletivo dos independentes, que muitas vezes se associam às grandes gravadoras para colocar seus discos nas lojas.
Uma das estratégias mais usadas pelos novos selos independentes é lançar, em primeiro lugar, uma coletânea. É o caso do selo Cascatas, de Santo André, que estreou com uma coletânea de rap, em 1.986, e nos últimos dois meses lançou 10 LPs. Foi da Cascatas que saiu o Sampa Crew, uma banda de "rap romântico" que, segundo Carlos Roberto dos Santos, sócio do selo, já vendeu 70 mil discos. "A gente vai no vácuo das grandes gravadoras. Quem colocou o samba no auge não foram elas, foi a gente".

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