São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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"Alternativos" dos 80 erraram no timing

BIA ABRAMO
DA REDAÇÃO

Houve um momento lá pela metade dos anos 80 que parecia que tudo ia dar certo –pelo menos para o rock e para o pop brasileiro. O RPM vendia como água e arrastava multidões para os estádios em todo o país, havia ainda pelo menos cinco outras bandas –Titãs, Paralamas, Legião Urbana, Barão Vermelho e Camisa de Vênus– chegando perto do sucesso. Ao largo das bandas candidatas às paradas, centenas de grupos iniciantes apareciam em cada esquina. A impressão era de que, com um pouco de atraso e talvez alguma sorte, o Brasil viraria uma nova Inglaterra.
Até as grandes gravadoras perceberam o que, ingenuamente, a imprensa especializada chamava de efervescência. Em 87, foi criado o selo Plug. A intenção era certa, mas não o timing. Foi atrás de bandas de estilos e origens variadas, como o funk-metal precoce do De Falla, o progressivo disfarçado dos Engenheiros do Hawaii, o samba-rock dos Picassos Falsos. Dos vários tiros, o Plug só acertou, em termos comerciais, com os Engenheiros.
Outras gravadoras apostaram em contratações arriscadas, para dizer o mínimo. A EMI-Odeon lançou o único disco de uma das mais bizarras combinações do pop nacional: o pagode industrial do Black Future. A Warner apostou no Gueto e seu funk eclético. Os selos independentes, aproveitando a movimentação, também se se animaram: Mercenárias, Fellini, Sexo Explícito, Akira S., entre outros, tiveram discos lançados.
Apesar de bem recebidos pela crítica –e, como se veria na década seguinte, influenciadores da geração 90–, a maioria dessas bandas e das iniciativas tanto das grandes gravadoras quanto dos independentes, no começo dos anos 90, o cenário era desolador. O pop nacional foi substituído pelo sertanejo nas rádios, a cena independente arrefeceu, bandas acabaram ou pararam. O único foco de resistência era o metal, puxado pela ascensão meteórica do Sepultura, bancada pelo selo Cogumelo. E foi justamente o exemplo do Sepultura que ensinou a geração 90. (Bia Abramo)

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