São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 1994
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Rio expõe Valentim

DA SUCURSAL DO RIO

Inaugurada ontem para convidados e aberta a partir de hoje para o público, a exposição de obras de Rubem Valentim, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio, é a primeira retrospectiva do artista plástico baiano morto aos 69 anos em 1991. A mostra estende-se até 6 de março, sempre de terça-feira a domingo, das 10h às 22h, com entrada franca.
Para o crítico, historiador de arte e curador Frederico Morais, Valentim foi o "precursor de um construtivismo centrado em raízes brasileiras." Um artista que, parecendo repetir-se à exaustão, "buscava saídas dentro da precisa geometria de seus signos-símbolos". Sua obra, mesmo passando por diferentes fases de 1949 a 1991, seria de permanente coerência, uma espécie de viagem da Bahia à Bahia, com escalas no Rio, Roma, Brasília e São Paulo.
A exposição cobre todas essas fases – ou escalas. De cada lugar em que viveu, Valentim assimilou aspectos da cultura local, sem no entanto romper com os elementos básicos que trouxera de Salvador: o candomblé e a geometria. Estes elementos já estão presentes em obras do primeiro período (1949-1956), representados por óleos como "Campo Grande" e "Pintura 3", "Casal Popular" e "Composição 1".
O segundo período (1957-1963) é passado no Rio de Janeiro, onde Valentim segue um caminho independente, afastado da luta concretismo versus neoconcretismo. A maioria dos trabalhos dessa intitula-se "Composição" ou não tem título. O período romano (1964-1966) marca um aprofundamento do interesse do artista pela arte afro. Parte das 40 telas produzidas está na exposição. Transferindo-se para Brasília, Valentim vive ali um período (1967-1981) que reflete, em termos de arte, as próprias contradições da nação que a nova capital representava: o velho e o novo, o arcaico e o moderno. Os trabalhos agrupados sob os títulos "Emblema-Relevo", "Relevo-Emblema", "Objeto Emblemático" ou simplesmente "Relevo" são dessa fase.
O período paulistano (1982-1991) é o último. De grande produção, mas quase sempre de peças de pequeno porte. Seus "Emblemágicos" são recriações plásticas dos pontos de umbanda e muitos deles estão na retrospectiva. Diz Frederico Morais: "Ao mergulhar na liturgia do candomblé, recolhendo os signos que irão alimentar sua arte – xaxará de Omulu, ibiri de Nana, abebê de Oxum, ferros de Osanha e de Ogum, pachorô de Oxalá – Valentim não apenas redescobre suas raízes africanas, como reafirma a importancia do signo como elemento estético."

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