São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Perito admite falhas em seu laudo sobre o local do crime

LUIZ OCTAVIO LIMA
DA FT

O perito Aparecido Donizetti Silvério, do Instituto de Criminalística de Santo André, reconheceu ontem que há falhas no laudo de sua autoria sobre o local onde ocorreu o assassinato do sindicalista Oswaldo Cruz Júnior. O principal erro no documento é a informação de que a porta da sala de Cruz, que era presidente do Sindicato dos Condutores Rodoviários do ABC, estava arrombada, quando, na verdade, era uma divisória danificada desde a manhã antes do crime. A porta se mantém intacta.
Em algumas versões do assassinato colhidas pela polícia, o estrago na divisória teria sido o motivo inicial da discussão travada entre Cruz e seu assassino, José Benedito de Souza, o Zezé.
"Para nós, de imediato, aquilo nos pareceu uma porta que havia sido recolocada", disse Silvério. O relatório também não traz fotos da sala. No laudo consta apenas um recorte de jornal em que a cena do crime foi publicada.
O documento preparado pelo perito, com quatro páginas, contém poucos detalhes e não deixa claro em que locais foram encontrados diversos objetos. O trecho que se refere à sala onde ocorreu o crime tem apenas três parágrafos que mencionam genericamente a porta arrombada, uma mancha de "sangue escorrido" no chão, "pedaços de prótese dentária" e pastas de arquivo espalhadas entre a cadeira de Cruz e o armário.
Silvério esclareceu ontem que os pedaços de prótese foram achados embaixo da cadeira do sindicalista morto. Ele revelou ainda que a cena do crime já estava bastante modificada quando chegou para fazer a perícia e que as pastas encontradas no chão deveriam ter sido retiradas dos armários depois do crime. "Ele não poderia estar com elas nas mãos no momento em que foi baleado, porque eram muitas."
Ontem, os promotores Pedro Baracatti Pereira e Alfredo Coimbra, designados pela Promotoria de Justiça de Santo André para acompanhar o caso, fizeram outra vistoria no local do crime. Ao sair, lacraram a sala.
Legisltas
O delegado Nélson Guimarães, responsável pela investigação sobre o assassinato no ABCD, afirmou ontem que não irá pedir a exumação do corpo de Cruz. Ele disse estar "satisfeito" com o laudo emitido pelo IML (Instituto Médico Legal) de Santo André.
Ontem o jornal "Diário do Grande ABC" trouxe depoimentos dos dois médicos-legistas Juvenal Campiolo e José Franklin Graupen, responsáveis pelo laudo, que também reconhecem ter cometido falhas na análise.
O documento, elaborado na madrugada seguinte ao crime e divulgado na última quarta-feira, diz que Cruz recebeu quatro tiros desferidos pelas costas, mas não contém fotos que acompanhem a descrição dos ferimentos.
Campiolo, responsável pela autópsia, disse que, "repensando o caso, acho que teria sido melhor ter feito fotos do corpo". Ele afirmou, porém, que os laudos emitidos pelo IML normalmente não contêm fotos. "Nós não temos equipamentos. Teríamos que requisitar uma foto ao Instituto de Criminalística."
Campiolo disse ainda ter sido atrapalhado pelo "tumulto" de jornalistas. O legista afirmou ter se sentido pressionado para apressar o laudo.

Colaborou a Folha ABCD

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