São Paulo, sábado, 15 de janeiro de 1994
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Importação agrícola bate recorde em 93

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

As importações brasileiras de grãos e fibras bateram recorde no ano passado, superando até o volume importado durante o Plano Cruzado, em 1986.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), as compras externas de arroz, feijão, milho, soja, trigo e algodão atingiram 8,5 milhões de toneladas no ano passado.
Em 1986, para vencer o aumento da demanda interna provocado pelo Plano Cruzado, o país chegou a importar 8,1 milhões de toneladas.
"As importações agravaram o desemprego no campo, o êxodo rural e não resolveram o problema da inflação", diz Pedro Camargo Neto, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Trigo
Só de trigo o Brasil importou 5 milhões de toneladas no ano passado. A produção nacional, que chegou bem próxima da auto-suficiência em 1987 (6 milhões de toneladas), despencou para 2,2 milhões de toneladas na safra passada.
"O governo castigou o trigo nacional. As vésperas do plantio da safra 93, reduziu as tarifas de importação do produto e da farinha e eliminou a tarifa compensatória sobre a compra de trigo norte-americano", diz o economista Fernando Homem de Melo, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo.
"A troca do trigo nacional pelo importado provoca desemprego de cerca de 400 mil trabalhadores durante a safra", calcula Renato Zandonadi, coordenador da camara setorial de trigo do Ministério da Agricultura.
Plantado durante o inverno, o trigo ocupa áreas e mão-de-obra ociosas no período entre março e setembro.
Algodão
A situação do algodão é mais crítica. De grande exportador, o Brasil virou segundo maior importador mundial da fibra.
Com a forte redução das tarifas de importação (de 35% para zero), a cultura do algodão está sendo praticamente abandonada. A área plantada na região Centro-Sul, que chegou a atingir 1,2 milhões de hectares em 92, foi reduzida para nada mais do que 660 hectares na atual safra.
A produção deste ano está sendo estimada pelos técnicos da Conab em 400 mil toneladas e a previsão é de importação de 500 mil toneladas de fibra. No ano passado, as importações brasileiras de fibras e tecidos chegaram a somar US$ 2 bilhões.
A cadeia agroindustrial do algodão ocupa cerca de 2 milhões de trabalhadores, entre empregos diretos e indiretos. Segundo avaliação dos técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento, a crise do algodão está levando ao desemprego 300 mil trabalhadores no campo e mais 400 mil na indústria têxtil.
Mais demanda
Com a perspectiva de uma safra pouco superior a de 93 e com os estoques baixos, as importações devem crescer este ano. "A produção está abaixo do consumo e se o plano do ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, tiver sucesso, a demanda deve crescer", diz Fernando Homem de Melo.
O governo aliás já anunciou a importação adicional de 1,7 milhão de toneladas de trigo. "É mais um golpe na triticultura nacional", diz Homem de Melo.
Para Pedro Camargo Neto, da Sociedade Rural Brasileira, as importações de trigo este ano devem atingir 6 milhões de toneladas.

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